Resumo

Título do Artigo

OS USOS E ABUSOS DA TEORIA DOS CAMPOS ESTRATÉGICOS DE FLIGSTEIN E McADAM PELA COMUNIDADE ACADÊMICA BRASILEIRA
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Tema

Inovação Sustentável e Marketing

Autores

Nome
1 - Ana Jane Benites
EACH - USP - Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade Responsável pela submissão
2 - André Felipe Simões
EACH - USP - GESTÃO AMBIENTAL

Reumo

Em 2012, Fligstein e McAdam, sociologistas norte-americanos, formalizaram sua Teoria dos Campos Estratégicos (TCE), harmonizando referenciais neoinstitucionalistas da sociologia econômica, alternativos aos modelos econômicos neoclássicos. A imersão social preconizada por tal referencial analítico mostra-se promissora à elaboração de estratégias para a sustentabilidade e inovação socioambiental. Porém permanecem pouco exploradas as formas de difusão do modelo no panorama latinoamericano, em que a habilidade social dos atores é limitada historicamente por condicionantes neoestruturalistas.
Dada a lacuna de conhecimento sobre as características do emprego da TCE no contexto latinoamericano, o problema de pesquisa constitui-se em preenchê-la sob os objetivos circunscritos ao caso brasileiro de (i) elencar instituições de ensino superior que mais referenciaram a TCE em publicações; (ii) apurar a quantidade e tipos desses trabalhos; (iii) identificar, neles, as áreas de conhecimento mais acessadas e seu vínculo ao tema da sustentabilidade; (iv) analisar as formas mais usuais de aplicação da TCE nessas obras e implicações às estratégias de sustentabilidade e inovação socioambiental.
A abstração da TCE por campos econômicos como arenas de disputa entre incumbentes (mais poderosos) e desafiadores (menos favorecidos em recursos) permite melhor compreensão do papel de atores socialmente hábeis que induzem agentes à cooperação, eventualmente invertendo ordens de poder. No caso das nações em desenvolvimento do Hemisfério Sul, entretanto, mazelas institucionais históricas estruturalistas, como a desigualdade na distribuição de renda e heterogeneidade estrutural tendem a restringir sobremaneira a habilidade social em comparação com países desenvolvidos do Norte geopolítico.
Uma pesquisa bibliográfica foi conduzida sob o buscador Google Scholar a partir do texto [“teoria dos campos” Fligstein], limitada a resultados focados no caso brasileiro. Registros datados a partir do ano de 2012, capturando aplicações mais amadurecidas da TCE, resultaram em 178 trabalhos científicos. Estes foram submetidos a um critério adicional de seleção descartando os que não se caracterizassem como artigo, tese, dissertação, TCC ou capítulo de livro. Com isso 154 obras foram examinadas em seu resumo, introdução, conclusão e corpo do texto quanto aos empregos típicos da TCE.
A UFSCar, UFRGS e UnB figuraram entre as instituições de ensino brasileiras cujas pós-graduações mais publicaram trabalhos aplicando a TCE. A massiva maioria das obras tratava de estudos de caso em que a TCE auxilia no mapeamento de atores e suas configurações de poder, no registro de surgimento de novos campos e até na previsão de futuros rearranjos entre eles. As áreas de conhecimento que mais recorreram à TCE foram a engenharia de produção, políticas públicas e administração. Sustentabilidade e ciências ambientais responderam por apenas 5,8% do total de publicações inspecionadas.
A minoria das publicações examinadas focalizou inovações sociais em que a cooperação entre atores desafiantes subverte ordens de poder nos campos, favorecendo grupos sociais menos privilegiados. Além disso, há demasiada ênfase na habilidade social dos agentes sem ponderação às restrições estruturais do panorama histórico da geopolítica neoestruturalista latinoamericana e brasileira. O papel do Estado como moderador das assimetrias de poder também permanece invisível nos trabalhos, revelando abusos a serem evitados e usos virtuosos da TCE a serem promovidos pela comunidade acadêmica brasileira.
Fligstein, N., & McAdam, D. (2012). A theory of fields. Oxford University Press. Nee, V. (2005). The new institutionalisms in economics and sociology. The handbook of economic sociology, 2, 49-74. Pérez, C. E. (2016). A time to reflect on opportunities for debate and dialogue between (neo) structuralism and heterodox schools of thought. Neostructuralism and heterodox thinking in Latin America and the Caribbean in the early twenty-first century. Santiago: ECLAC, 2016. LC/G. 2633-P. p. 31-83.