Resumo

Dentro das discussões sobre o desenvolvimento sustentável e o papel das organizações, debate-se sobre qual o papel do setor público nesse cenário. Se por um lado, há o entendimento de que ele impacta em mudanças nas decisões de compradores e fornecedores em serem mais sustentáveis (Bratt et al., 2013; Domingues et al., 2017), por outro, argumenta-se que é o setor privado que ajuda indiretamente o setor público a ser mais sustentável e transparente quando busca agradar o mercado de ações, pois o setor público aprende a partir do conhecimento adquirido pelo setor privado (Uyar et al., 2020).

A partir do estudo do nível ou estágio de maturidade das práticas adotadas pelas organizações é possível mapear o que já está sendo feito e o que ainda precisa avançar em relação à sustentabilidade. Baseando-se na força dos atores públicos e sua influência sobre o resto do mercado, o objetivo da pesquisa é analisar as ações voltadas para a sustentabilidade no setor público, a partir dos estágios de maturidade propostos por Landrum (2017) e Marrewijk e Were (2003), com foco na Rede Paranaense para a sustentabilidade na Gestão Pública.

Landrum (2017) criou o modelo unificado da sustentabilidade corporativa que consiste em cinco fases ou estágios para que, de acordo com suas ações e de como interpretam a sustentabilidade, as organizações sejam classificadas. Marrewijk e Were (2003) também definiram suas fases e estágios, mas de acordo com o nível de conscientização e ambição da organização. Para eles, as organizações podem mudar de níveis dependendo da complexidade que desejam na sua concepção e ação relacionada à sustentabilidade.

Foram entrevistadas quatro gestoras responsáveis pela criação e implementação dos projetos de sustentabilidade de três órgãos públicos participantes da Rede Sustenta Paraná: Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná(HC), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná(UTFPR) e o Tribunal Regional do Trabalho (TRT). Alinhada com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e com a Agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas (ONU), a Rede tem por intuito gerar e fomentar ações entre os entes públicos em busca da promoção da responsabilidade social e desenvolvimento sustentável.

As 3 organizações estudadas apresentaram similaridades, como a motivação interna das três virem da direção e das pessoas responsáveis pela sustentabilidade e todas apresentaram a necessidade de um extensivo trabalho de conscientização dos funcionários. Ademais, as três confirmaram que são as suas mudanças que fazem com que fornecedores precisem se adequar, demonstrando a sua influência na sua cadeia e no mercado. Mas também apresentaram diferenças significativas, com cada uma em um estágio diferente do modelo estudado. O HC foi classificado no estágio 2, o TRT no estágio 3 e a UTFPR no 4.

Contribuiu-se para ampliar os estudos a respeito de organizações públicas, ao mesmo tempo que aplicou-se dois frameworks teóricos propostos e usualmente utilizados para a análise de organizações privadas. Outras características próprias do setor poderiam ser melhor abordadas por um modelo próprio, como a burocracia e o tamanho das organizações. Sugere-se que as organizações públicas sistematizem suas informações de sustentabilidade para disponibilizar para o público interno e externo, como por meio de um relatório de sustentabilidade anual retratando resultados alcançados e ambições.

Landrum, N. E. (2018). Stages of Corporate Sustainability: Integrating the Strong Sustainability Worldview. Organization and Environment, 31(4), 287–313. https://doi.org/10.1177/1086026617717456 Marrewijk, M. van, & Marco, W. (2003). Multiple Levels of Corporate Sustainability. Journal of Business Ethics, 44, 107–119. Uyar, A., Kuzey, C., & Kilic, M. (2020). Sustainable Stock Market and Sustainability Reporting Propensity of the Public Sector: Mediating Role of the Private Sector. International Journal of Public Administration, 00(00), 1–14.