Resumo

O Brasil está passando por um processo de rápido envelhecimento populacional e mudança na estrutura social. Dos mais de 211 milhões de pessoas, cerca de 30 milhões são de pessoas com 60 anos ou mais de idade (GAPMINDER, 2020). A busca da sociedade moderna por uma vida mais longa e participativa já tem sido pautada nas pesquisas na área do envelhecimento. O contexto politico, econômico e social do envelhecimento populacional deve ser percebido como oportunidade para que as cidades desenvolvam estruturas e equipamentos urbanos que favoreçam a co-gestão dos seus espaços pelas pessoas idosas.

A poesia pode auxiliar o manejo dos acontecimentos do cotidiano da vida de pessoas idosas em situação de distanciamento social e inspirar o redesenho do futuro em tempos de Covid 19, a partir dos valores da dignidade humana, solidariedade coletiva, sustentabilidade e da criação de novas formas de agir e interagir. O projeto estruturou uma ambiência poética que permitiu conduzir ateliês de conversas e reflexões sobre a vida e a natureza. As estórias de gestão da cidade precisam ser contadas e a poesia se apresentou como uma linguagem da alma para essa tarefa civilizatória e civilizante.

As pessoas idosas em detrimento da pandemia precisaram se manter em distanciamento social, mas fazia-se necessário desenvolver estratégias de socialização que oportunizassem uma ampliação de consciência sobre temas relevantes para a cogestão da e na cidade que favorecessem as descobertas de novas capacidades. O ageismo, preconceito baseado na idade cronológica de uma pessoa, produz barreiras individuais e institucionais que dificultam um envelhecimento saudável e participativo. A poesia como linguagem proporcionou diálogos intergeracionais entre os idosos, suas família e redes sociais.

Realizou-se 8 ateliês com 25 pessoas idosas do SESC a fim de favorer uma ambiência de escuta sensível. Adotou-se a escrita criativa como ferramenta para os idosos narrarem suas percepções sobre pessoas, consumo responsável, ambiente, oportunidades de protagonismos na cidade, cenas e imagens que encantam e desencantam. Os ateliers funcionaram como um laboratório de captação de memórias e registro de histórias que potencializam o bem viver em cenário de distanciamento social provocado pela pandemia do Covid 19. As pessoas idosas foram convidadas a desenvolver poesias sobre os temas abordados.

A poesia foi utilizada como uma linguagem de lamento pelas perdas e ameaças aos direitos adquiridos e ao mesmo tempo como linguagem de júbilo e disrupção de narrativas. Os ateliers poéticos permitiram testemunhar histórias de pessoas idosas exercendo múltiplos papeis em nossa sociedade, recriando e ampliando identidades, conectando com os saberes populares e os conhecimentos científicos, percebendo o autoconvite para se tornarem gestoras nas cidades e voluntárias nos territórios onde organizam movimentos de resistências e de inteligências múltiplas de sobrevivência no espaço urbano.

O projeto produzido um E-Book que descreve a metodologia e cada uma das poesias denuncias que foram escritas. O livro digital será distribuído gratuitamente no dia 13/10/2020, por ocasião do Webinário em Longevidade promovido pelo SESC DF em parceria com a Universidade de Brasília e apoiado pela plataforma Vitrine 100 Idade que acontecerá de 13 a 15 de outubro de 2020 na modalidade virtual. Durante os três dias do evento as poesias serão lidas pelos idoso que participarão das lives. Além disso houve o treinamento dos idosos para gravarem vídeos curtos apresentando suas poesias.