Resumo

As práticas empresariais socialmente responsáveis evoluíram da filantropia para a responsabilidade social e sustentabilidade empresarial, com ações cada vez mais coordenadas. Nesse trajeto, muitos atores atuaram para moldar este campo, entre eles, as organizações não governamentais (ONGs). Estudos recentes mostram que o debate sobre as externalidades da relação ONG-Corporação, nos âmbitos socioeconômico e ambiental, é inconclusivo. Assim, é importante investigar as práticas exercidas pelas ONGs na interação com corporações e os resultados obtidos a partir da relação entre elas.

Para atender essa lacuna, o presente trabalho busca contribuir de duas maneiras. A primeira, por meio de uma revisão sistemática da literatura, visa responder a seguinte questão: como as características das ONGs e corporações afetam os resultados gerados a partir da relação entre elas? A segunda, busca identificar os tópicos emergentes relacionados ao tema, contribuindo para o entendimento dos fatores, contextos e estratégias que levam a determinados resultados na relação entre ONGs e corporações.

Elkington e Fennell (2017) desenvolveram uma tipologia para classificação dos diferentes tipos de organizações no contexto da relação ONG-Corporação. As ONGs podem ser classificadas quanto ao nível de integração ao mundo corporativo (polarizadora ou integradora) e à maneira como avalia as potenciais corporações parceiras (discriminadora e não discriminadora). Já as corporações podem ser classificadas quanto à disposição de se envolver com ONGs e a sociedade civil em geral (abertas ou fechadas) e ao seu alinhamento ao desenvolvimento sustentável.

Foi utilizada a revisão sistemática da literatura, organizada em três fases: i) planejamento (estudo inicial, questão e protocolo de pesquisa, critérios de inclusão/exclusão); ii) condução (strings de busca, definição da amostra, análise e sistematização dos artigos); iii) divulgação (elaboração de relatório com análises descritivas e de conteúdo, sintetizando achados, contribuições e temas emergentes). Para análise, foram utilizados: o software IRAMUTEQ e as técnicas Classificação Hierárquica Descendente (CHD), Análise Fatorial de Correspondência (AFC) e Análise de Especificidades (AE).

A revisão sistemática da literatura sobre a relação ONG-Corporação revelou predominância de interações do tipo “parceria” sobre aquelas do tipo “conflito”. ONGs do tipo integradora-discriminadora apresentaram mais experiências positivas. Corporações consideradas socialmente responsáveis tiveram mais resultados positivos. Como temas emergentes estão: parcerias estratégicas (relações que geram impactos positivos para ambas); processo de aprendizagem moral das corporações; complexidade da atuação transnacional de ONGs e corporações, que devem levar em conta aspectos locais e globais.

Os resultados mostraram-se coerentes com a tipologia de Elkington e Fennell (2017), uma vez que para ONGs integradoras-discriminadoras, houve maior ocorrência de parceria, colaboração, aliança, engajamento e diálogo, enquanto aquelas que optam por confronto, observou-se conflito ,tensão e oposição. Quanto às corporações, o principal fator que afeta positivamente os resultados na relação com ONGs é o alinhamento ao desenvolvimento sustentável.

BITZER, V.; GLASBERGEN, P. Business-NGO partnerships in global value chains: Part of the solution or part of the problem of sustainable change? Current Opinion in Environment Sustain., v.12, p.35–40, 2015. ELKINGTON, J.; FENNELL, S. Partners for sustainability. In: BENDELL, J.(Ed.). Business, NGOs, and sustainable development. New York: Taylor & Francis, 2017. p. 150-162. MOUSAVI, S.; BOSSINK, B. Corporate-NGO partnership for environmentally sustainable innovation: Lessons from a cross-sector collaboration in aviation biofuels. Env. Innovation and Societal Transitions, v.34, p.80–95, 2020.