Resumo

O aumento do consumo de água aliado à escassez deste recurso tem resultado em efeitos negativos, ambientais e sociais, e provocado reflexões acerca de sua manutenção para as gerações futuras. Apesar de seus fortes efeitos imediatos na vida do consumidor, seu uso ainda é irresponsável. Logo, faz-se necessário compreender quais os antecedentes que promovem seu consumo consciente com vistas a traçar políticas públicas efetivas.

A partir de um consumo mais consciente ecologicamente, pode-se ter uma redução do uso dos recursos naturais. Contudo, apesar da existência da consciência ecológica como preditora a esse tipo de consumo, alguns outros fatores podem influenciar nessa decisão, como os objetivos individuais e a disposição para alcançá-los. Diante disso, busca-se contribuir para o estado da arte deste fenômeno, ao analisar se o princípio motivacional de autorregulação -- foco regulatório crônico --, mediado pela consciência ecológica, influencia o consumo consciente de água.

O consumo consciente, especialmente de água, está relacionado à tomada de decisão dos consumidores que pondera os impactos sociais e ambientais (SILVA et al., 2013). Uma teoria que auxilia a compreender as decisões do consumidor, é a do foco regulatório. Esta prevê que o indivíduo é direcionado em suas ações para um foco em obter ganhos ou evitar perdas (HIGGINS et al., 2001). Conjectura-se, assim, que esta mediada pela consciência ecológica, entendida como uma predisposição a um comportamento pró-ambiente (ROBERTS; BACON, 1997), possa explicar o consumo consciente de água.

A pesquisa foi realizada na região do Agreste de Pernambuco, de modo a analisar o consumo consciente de água em um contexto com problemas de disponibilidade hídrica. Por meio de uma abordagem quantitativa, foram coletados dados de 188 moradores da região a partir de um questionário com base nas escalas do Foco regulatório crônico, da Consciência ecológica e do Consumo consciente de água. Os dados obtidos foram analisados por meio de estatísticas descritivas e inferenciais, a partir dos softwares SPSS e AMOS, e depois foram testadas as hipóteses mediante a modelagem de equações estruturais.

De maneira geral, os resultados deste estudo apontam que os consumidores da região estudada possuem uma forte inclinação ao consumo consciente de água. No entanto, este estudo revela que o foco regulatório crônico e, ainda, a consciência ecológica não atuam como preditores deste comportamento. Estes achados podem ser explicados pela lacuna que há entre ter a preocupação ambiental e o comportamento pró-ambiente. Além disso, sinaliza-se que fatores externos como a limitação da quantidade de água, sua qualidade, entre outros aspectos, podem atuar no processo de forma mais contundente.

Este estudo buscou investigar se o foco regulatório crônico do consumidor e a consciência ecológica atuam como preditores do consumo consciente de água. Surpreendentemente, conclui-se que estes fatores não influenciam o fenômeno investigado. Aponta-se, que possivelmente a limitação da quantidade do recurso hídrico é responsável por direcionar os consumidores a poupá-lo, além de o objetivo maior estar relacionado à obtenção de ganhos. Assim, as formas conservadoras de políticas públicas precisam ser reajustadas e direcionadas à propagação dos benefícios imediatos do consumo responsável.

HIGGINS, E. T. et al. Achievement orientations from subjective histories of success: promotion pride versus prevention pride. European Journal of Social Psychology, v. 31, 2001. ROBERTS, J. A.; BACON, D. R. Exploring the Subtle Relationships between Environmental Concern na Ecologically Conscious Consumer Behavior. Journal of Business Research, v. 40, n. 1, 1997. SILVA, M. E.; OLIVEIRA, A. P. M.; GÓMEZ, C. R. P. Indicadores de consumo consciente: uma avaliação do recifense sob a ótica do consumo sustentável. Revista Eletrônica de Ciência Administrativa, Porto Alegre, v. 12, n. 2, 2013.