Resumo

Os ônibus são ambientes com alto risco de transmissão do Covid-19 por consistirem em ambientes fechados, com pouca ventilação e, em alguns casos, presença de ar-condicionado. Agora, imagine um cenário de pandemia. Todas estas condições devem ser fortes agravantes de transmissão e infecção por contaminantes patológicos, sobretudo, se não forem observadas as proporções entre indicadores do sistema que sejam capazes de promover o distanciamento social nas dependências internas dos ônibus de transporte público.

O objetivo deste trabalho foi analisar se as restrições impostas à mobilidade e às atividades essenciais promoveram o isolamento social em Manaus no mês de abril/2020, e da mesma forma comparar se as reduções dos indicadores do sistema de transporte público foram eficientes para promover o distanciamento social e suficientes para impedir a contaminação por Covid-19. Dessa forma, é possível promover o distanciamento nas dependências dos veículos do transporte público reduzindo frota e viagens, ainda que o volume de passageiros seja reduzido em vistas das restrições às atividades não essenciais?

As camadas sociais mais baixas fazem uso extensivo do transporte público. Seus deslocamentos incluem o trabalho e o lazer, porque estão mais distantes das áreas centrais ou dos polos locais dinâmicos. Então, além de motor do desenvolvimento econômico, deveria ter caráter inclusivo. “A periferia é de fato o local mais afetado e que precisa de mais atenção e investimentos. Pela desigualdade econômica, informalidade e falta de um auxílio financeiro adequado, as pessoas na periferia são obrigadas a se deslocarem mais” (CALABRIA, 2020).

Os dados referentes aos indicadores do Sistema de Transporte Público de Manaus foram coletados junto ao Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), que é o órgão gestor do sistema. Os índices de isolamento social foram coletados da Plataforma Inloco para o mês de abril/2020. Os dados do Sistema de Transporte Público foram tratados com base em estatística descritiva, com adoção de medidas de tendência central, como média, e dispersão, mas também foram realizadas correlações entre séries para analisar o grau de interdependência entre ambas.

No início das manhãs e no final das tardes, durante os dias úteis, nos chamados momentos de pico, o volume de transporte de passageiros se dá na total ausência de urbanidade. Então, durante o mês de abril/2020, enquanto vigorava o decreto estadual de quarentena, o sistema transportou, em média nos dias úteis 37 passageiros por veículo, representando 80% da capacidade de passageiros sentados. Mas, por compreender não ser linear o volume de usuários transportados durante o dia, pode-se inferir que houve aglomeração nos momentos de pico, contribuindo para o contágio e a proliferação de Covid-19.

As análises apontam que a redução da frota de ônibus em Manaus teve a tendência de criar aglomerações e lotações, pelo fato de existir demanda por transporte público, o que corroborou para sujeitar ao maior risco de contágio os trabalhadores pobres e periféricos. Mesmo com as restrições impostas pelos decretos estaduais, os ônibus continuaram lotados e o mínimo distanciamento não ocorreu, sobretudo, nos dias úteis, porque provavelmente não foram observadas as proporções adequadas da frota e das viagens que proporcionassem o distanciamento dentro dos veículos.

CALABRIA, Rafael. Os riscos no transporte público durante a pandemia. Consumidor Moderno, 2020. Disponível em: https://www.consumidormoderno.com.br/2020/06/18/riscos-transporte-publico-pandemia/. Acesso em: 21/07/2020 DUTRA, J. M. et al. Inconsistências entre estimativas de gases de efeito estufa e o Plano Municipal de Mobilidade Urbana de Manaus. Revista do Departamento de Geografia (USP), v. 38, p. 169-182, 2019. IMMU – Instituto Municipal de Mobilidade Urbana. Correspondência pessoal. Manaus, 2020. INLOCO, 2020. Identidade privada por localização, página inicial.