Resumo

Grandes empresas precisam atender a demanda por informações a respeito de seu desempenho financeiro (como por exemplo, as demonstrações financeiras padronizadas) e hoje em dia alguns usuários da informação tem exigido informações sobre a sustentabilidade e criação de valor da empresa para a sociedade. O relato integrado surge a partir do crescimento da complexidade, da extensão dos relatórios individuais, e dos movimentos que surgiram para recombinar algumas divulgações sociais e ambientais com aquelas financeiras nos relatórios individuais.

O Relato Integrado é uma divulgação voluntária com diretrizes principiológicas, o que abre espaço para estratégias de gerenciamento de impressões. Nesse contexto, questiona-se como eventos noticiados pela mídia são divulgados no Relato Integrado. O objetivo desta pesquisa foi evidenciar as características da divulgação de eventos noticiados pela mídia no Relato Integrado. Para isso, o presente estudo de caso analisa a Natura Cosméticos SA, empresa brasileira atuante no setor de cosméticos.

Villiers, Venterb e Hsiao, (2017) concluem que os relatórios integrados nem sempre são comparáveis, reduzindo potencialmente a sua utilidade para os analistas de investimento. A abordagem baseada em princípios da estrutura que o IIRC oferece à gerência, certa liberdade para personalizar (manipular) o relato integrado da organização, aumenta o risco de facilitar uma maior heterogeneidade e reduz a comparabilidade entre os relatórios, sejam eles da mesma entidade (anos diferentes) ou de concorrentes (VELTE; STAWINOGA, 2017).

O presente trabalho classifica-se como um estudo de caso longitudinal na empresa Natura Cosméticos SA, pois é uma entidade que adotou a divulgação do relato integrado desde o projeto piloto de implementação no Brasil. Foram analisadas notícias vinculadas com a empresa referentes aos períodos de 01/01/2012 até 31/12/2017; todas obtidas do site eletrônico do Jornal Valor Econômico. O conteúdo das notícias foi, então, confrontado com o conteúdo do Relato Integrado do mesmo ano. Foi usada a classificação de Melloni, Stacchzzini e Lai (2015) para analisar as características da informação.

Foram encontradas 279 notícias, divididas em 167 boas e 112 ruins. Que foram analisadas em relação a área de sustentabilidade, financeira e concorrência. Na área de estratégia foram encontrados 120 notícias (101 boas e 19 ruins), na área de sustentabilidade foram encontrados 23 notícias (21 boas e 2 ruins), na área financeira foram encontradas 103 notícias (38 boas e 65 ruins) e na área concorrência foram encontrados 33 notícias (6 boas e 27 ruins). Observa-se que nos anos que não seguiram o framework IIRC, 2012 e 2017, a divulgação fidedigna dos eventos reportados pela mídia é maior.

a comparação das informações divulgadas com as notícias permitiu evidenciar que há uma lacuna entre os fatos ocorridos e os fatos relatados. Como a proposta do R.I é evidenciar como a empresa cria valor, a inclusão da mudança de estratégia da empresa nos seus relatórios era o esperado, e o encontrado foi satisfatório, pois a Natura evidenciou a sua mudança estratégica. Porém uma ressalva deve ser destacada; quando o conteúdo evidenciado pela mídia era negativo para a empresa, ela omitia ou distorcia essa informação na divulgação, e isso foi evidente para todas as categorias existentes.

MELLONI, G; STACCHZZINI R; LAI A. Intellectual capital disclosure in integrated reporting: an impression management analysis. Journal of Intellectual Capital, v. 16, n. 3, 2015. VELTE, P.; STAWINOGA, M. Integrated reporting: The current state of empirical research, limitations and future research implications. Journal of Management Control, v. 28, n. 3, p. 275-320, 2017. VILLIERS, C.; VENTER, E. R.; HSIAO, P.C. K. Integrated reporting: background, measurement issues, approaches and an agenda for future research. Accounting & Finance, v. 57, n. 4, p. 937-959, 2017.