Resumo

Em março a OMS declarou pandemia causada por um tipo até então desconhecido de coronavírus identificado menos de 3 meses antes. Dada como vinha afetando os mercados, a CVM editou normas reforçando a necessidade de transparência em relação à pandemia. Esta pesquisa explorou como a Contabilidade reagiu (positiva, negativa ou neutra), processou (quantificação) e reportou (forma) informações sobre riscos e incertezas relacionados. A pesquisa se justifica por ineditismo na extensão do desenrolar da pandemia de coronavírus num período conhecido como “safra de balanços”.

O escopo da pesquisa foi explorar como a Contabilidade reagiu, processou e reportou informações sobre a pandemia. Quis o destino que a decretação de quarentena coincidisse com o período conhecido como “safra de balanços”. Cuidou-se de uma oportunidade única para a comunicação corporativa, por meio das demonstrações obrigatórias de exercer na plenitude o caráter preditivo da informação contábil. Para tanto, estabelecemos como objetivos: i) analisar o comportamento de entidades quanto à percepção dos efeitos da pandemia sobre os negócios e ii) identificar qual o primeiro meio para o disclosure.

À exemplo de áreas correlatas, a Contabilidade adota risco como resultado da multiplicação de probabilidade de evento futuro por sua severidade. Somente riscos quantificáveis costumam ser apreciados nas demonstrações contábeis padronizadas. Informações financeiras úteis carregam características quantitativas e qualitativas. Dentre estas, a relevância, a capacidade de fazer diferença no julgamento dos usuários, que contenham valor confirmatório ou preditivo. Embora retratem um desempenho passado, as demonstrações contábeis também incluem informações prospectivas referentes a eventos futuros.

A fim de alcançar os objetivos, realizamos uma pesquisa exploratória, empírico-analítica descritiva. Em função de restrições temporais e operacionais, a exemplo de outras pesquisas interdisciplinares em sustentabilidade (Lahsen et al., 2017), realizamos buscas aleatórias, simples e livres na rede mundial de computadores associadas às variáveis operacionais: comunicados, fatos relevantes, relatórios da administração e notas explicativas das demonstrações contábeis divulgadas durante o período selecionado contendo necessariamente as palavras-chave: coronavírus e covid-19.

Esta pesquisa exploratória revelou que entre 16/3 e 23/4 quando o Brasil já havia detectado 3.375 casos e 403 mortes, foram encontradas 69 entidades que prestaram informações sobre o impacto da pandemia em seus negócios (expectativas de desempenho futuro) e o meio para seu disclosure. Uma minoria das entidades praticou seu disclosure acerca da pandemia por meio de relatório da administração ou notas explicativas. Das primeiras, nenhuma de capital fechado e nenhum setor preponderante. Das últimas, com exceção de uma, divulgaram como evento subsequente, sendo a maioria da categoria novo mercado.

De modo destoante do noticiário, apenas 1/3 das entidades da amostra reportaram uma reação negativa à pandemia. A maioria reagiu de forma considerada neutra. Uma reação positiva foi projetada por 3 entidades. O aspecto explorado, como os efeitos foram processados, trouxe apenas um resultado afirmativo em nota explicativa de evento subsequente, o que pode não ser estatisticamente significativo. Somente 11 em 69 entidades fizeram uso do relatório da administração ou das notas explicativas para divulgação de informações de evento subsequente como determinam as normas aplicáveis.

Adams, J. (2009). Risco. Beck, U. (2010). Sociedade de Risco. Bernstein, P. L. (1997). Desafio aos Deuses. 5.ed. Rio de Janeiro: Campus. Jacobi, P. et. al. (2015). Interdisciplinaridade e mudanças climáticas: caminhos de reflexão para a sustentabilidade. Lahsen, M. et. al. (2017). Dimensões humanas e econômicas das mudanças climáticas. May, T. (2004). Pesquisa Social: questões, métodos e processos. 3.ed. Zonatto, V. C. S.; Beuren, I. M. (2010). Categorias de Riscos Evidenciadas nos Relatórios da Administração de Empresas Brasileiras com ADRs. Revista Brasileira de Gestão de Negócios.