Resumo

Título do Artigo

CRISE AMBIENTAL E SOCIEDADE DE RISCO: Um estudo sobre Mariana e Brumadinho
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Tema

Governança e Sustentabilidade em Organizações

Autores

Nome
1 - Eduardo de Faria Nogueira
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA - UEL - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA - UEL
2 - Talita Ravagnã Piga
- Responsável pela submissão
3 - Sonia Regina Vargas Mansano
-

Reumo

A dimensão econômica, focada no crescimento dos mercados, tornou-se o maior interesse dos países desenvolvidos, e com isso, as dimensões social e ecológica da sustentabilidade foram historicamente negligenciadas, colocando parte da humanidade sob um constante estado de crises socioambientais (VIZEU; MENEGHETTI; SEIFERT, 2012), a exemplo das graves devastações ambientais ocorridas nas cidades de Mariana (2015) e Brumadinho (2019) (ambas no estado de Minas Gerais), envolvendo a mineradora Vale com os rompimentos das barragens de rejeitos de minério ocasionando contaminações e crises diversas.
O estudo tem por objetivo relacionar a teoria da Sociedade de Risco (BECK, 1992; 2011), com os desdobramentos dos desastres ambientais brasileiros de Mariana e de Brumadinho. A teoria da Sociedade de Risco se apresenta como abordagem pertinente a análise de desastres ambientais no setor de mineração, pois enfatiza situações que se tornam potenciais ameaças de catástrofe local, nacional e global, assim como os efeitos negativos do processo industrial e sua intensa depredação da natureza (PELICIONI, 2014; BECK, 2011).
Beck (2011) destaca a noção de riscos como consequências dos processos industriais, como “efeitos colaterais latentes” do próprio processo de modernização. O caráter globalizante dos riscos, a exemplo do aquecimento global, nos remete ao problema de que seus efeitos sobre os afetados não estão necessariamente vinculados ao local de origem, mas produzem riscos civilizatórios (globalizados) e ameaças que escapam à nossa percepção. Os riscos são sistematicamente produzidos pelo modelo industrial capitalista e, sendo assim, são também definidos, legitimados e distribuídos politicamente.
O percurso metodológico do artigo se pautou, além da apresentação de bibliografia pertinente, no levantamento e análise de materiais de 15 reportagens retirada de dois sites (materiais de domínio público) a respeito dos casos de Mariana e Brumadinho. O recorte temporal compreendeu os anos de 2015 a 2021, período que abrange a ocorrência dos dois desastres ambientais. A organização dos dados tomou por base as cinco teses da Sociedade de Risco de Beck (2011) e uma análise categorial foi realizada sob os conteúdos das matérias jornalísticas.
De modo geral, a análise dos desastres ambientais brasileiros, à luz das noções centrais da teoria da Sociedade de Risco, demonstra o nível de negligência institucional por parte de grandes corporações e de organizações governamentais para lidarem com os problemas ambientais na atualidade. Os casos apresentados trazem à tona a inabilidade gerencial dos órgãos governamentais em fomentar projetos e ações com o objetivo de prevenir ou reparar tais problemas. Destacam-se também alguns obstáculos institucionais para o reconhecimento e o enfrentamento dos riscos na sociedade brasileira.
A concepção de natureza transformada pelo ser humano, sob um prisma capitalista e neoliberal, que a subjuga como apenas um recurso a ser utilizado a serviço do mercado, demonstra a relevância de pensar criticamente sobre as bases e limites dos riscos e crises na sociedade atual. Percebe-se que a degradação ambiental que se apresenta nos tempos atuais, sobretudo no Brasil, pode ser entendida de maneira ampla como consequência de intensas crises e riscos que já não são apenas previsões alarmistas e que atingem a humanidade de maneira geral, geradas pelo processo de mercantilização da natureza.
BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. 2. ed., São Paulo: Editora 34, 2011. O’CONNOR, J. ¿Es posible el capitalismo sostennible? In: ALIMONDA, H. Ecologia política. Naturaleza, sociedad y utopia. Buenos Aires: CLACSO, p. 27-52, 2002. STENGERS, I. No tempo das catástrofes - resistir a barbárie que se aproxima. São Paulo: Cosac Naify, 2015. PELICIONI, A. F. Movimento ambientalista e educação ambiental. In: PHILIPPI JR., A.; PELICIONI, M. C. F. (Eds.). Educação ambiental e sustentabilidade. 2. ed. rev. e atual., Barueri: Manole, p. 413-443, 2014.