Resumo

Nas últimas décadas, diversos acidentes ambientais aconteceram no Brasil e no mundo. Dentre eles, citam-se os acidentes envolvendo as barragens da Vale S.A. em Mariana e Brumadinho. É certo que acidentes dessas magnitudes impactam em diversas áreas presentes na sociedade e um enfoque relevante que deve ser interpretado é o econômico/financeiro. Nesse contexto, o objetivo principal do trabalho consiste em analisar a reação dos preços das ações da mineradora Vale S.A. após as ocorrências de duas das maiores tragédias ambientais do país.

O problema de pesquisa é o impacto dos desastres ambientais na cotação das ações da Vale S.A. Como primeiro objetivo, busca-se verificar como a companhia divulgou as duas ocorrências (notas de Fato Relevante, a maneira em que os acidentes foram divulgados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e como detalhou os acidentes nas suas demonstrações contábeis trimestrais e anuais). Como segundo objetivo, o estudo pretende analisar se existe ou não um padrão de reação de mercado nas situações de acidentes ambientais.

Em termos teóricos, o artigo se baseia na Teoria da Hipótese do Mercado Eficiente e o papel da Informação Contábil. Resumidamente, a Hipótese de Mercado Eficiente está baseada na afirmação de que o preço de uma ação reflete as informações disponíveis a respeito da empresa que a emitiu e novas informações alterarão sua cotação. Assim, através da divulgação de informações por parte da Vale S.A., busca-se analisar como o mercado refletiu os acidentes ambientais na cotação das empresas.

Para analisar os efeitos dos acidentes de Mariana e Brumadinho, a técnica escolhida também foi Estudo de Eventos. Este método consiste na verificação dos impactos de algum evento específico na variável de interesse. Nesse caso, o interesse recai em estudar a influência dos desastres ambientais no valor das cotações das ações ordinárias da Vale, descontando a variação normal do mercado. O pressuposto preliminar é que, de fato, os eventos influenciaram negativamente os papéis da mineradora.

Em se tratando da divulgação do acidente de Mariana, a Vale publicou, ainda no ano de 2015, 3 Fatos Relevantes sobre o assunto. No âmbito da divulgação ao mercado sobre o acidente de Brumadinho, uma diferença notável é a quantidade de comunicados que a Vale preparou em relação ao acidente de Mariana, sendo o número muito maior. Pela técnica do estudo de eventos, concluiu-se que os dois acidentes ambientais impactaram negativamente as ações da Vale S.A. no mercado de capitais brasileiro. Percebeu-se que a queda durante o acidente de Mariana se mostrou menor que a queda de Brumadinho.

No campo das divulgações, observou-se que nos dois casos a Vale S.A. publicou fatos relevantes e dedicou notas explicativas exclusivas aos acidentes nas demonstrações financeiras trimestrais do período dos acidentes. Foi constatado que no caso de Brumadinho a mineradora emitiu uma quantidade maior de comunicados em relação à Mariana. Em todos os casos, os acidentes tiveram um impacto negativo nos preços das ações, resultando em uma perda de valor da Vale. Isso mostra a relevância que os acidentes ambientais têm não só para a sociedade em geral, mas também para o mercado.

ALVES, J. L.; BORBA, J. A. A relevância da informação contábil ambiental para a tomada de decisão de investimento: Um estudo experimental. Contabilidade, Gestão e Governança, Brasília, v. 12, n. 2, p. 44-57, mai/ago 2009. ARAUJO; F. S. M.; SOARES, R. A.; ABREU, de; M. C. Avaliação das reações do mercado de capitais no Brasil e na Austrália após o acidente ambiental da mineradora Samarco. Revista Catarinense da Ciência Contábil, Florianópolis, v. 17, n. 52, p. 7-22, set./dez. 2018. BARCELLOS, C.; FREITAS, de; C. M.; ASMUS, C. I. R. F.; XAVIER, D. R. Da Samarco em Mariana à Vale em Brumadinho: d