Resumo

O setor de cacau vem sofrendo transformações, visto que os consumidores demandam cada vez mais, produtos de origem sustentável e que requerem manejos específicos. Isto suscita indagações a respeito da forma pela qual as processadoras de cacau adaptam suas estruturas de governança para garantir o fornecimento – estruturas estas compostas também por formas plurais (Menard et al; 2014). O estudo recorre à Economia dos Custos de Transação (ECT) para explicar as formas plurais, mas avança ao incorporar uma perspectiva dinâmica a esta abordagem.

Como as capacidades dinâmicas influenciam na escolha pelas formas plurais na obtenção de amêndoas de cacau pelas empresas processadoras no Brasil? O trabalho traz uma visão integrativa entre a abordagem que utiliza a Economia dos Custos de Transação para explicar a existência de formas plurais, basicamente atribuindo-as à percepção simultânea de especificidade de ativos intermediária e incerteza significativa (Menard et al, 2014; Schnaider et al., 2018) e a teoria das capacidades dinâmicas (Teece; Pisano; Shuen, 1997).

A principal contribuição do trabalho foi incorporar uma perspectiva dinâmica ao uso da ECT para explicar formas plurais. Há uma carência de estudos que trazem à tona aspectos dinâmicos sobre as escolhas de governança e em especial, das formas plurais. Os achados empíricos podem ajudar a entender por que as formas plurais prevalecem ao longo do tempo em alguns casos, mas não em outros. Tem-se como proposição final que quanto mais as capacidades dinâmicas se desenvolvem ao longo do tempo, menor deverá ser a prevalência de formas plurais.

Desenvolve-se uma pesquisa qualitativa com três empresas do setor de processamento de amêndoas de cacau que estão inseridas no mercado nacional e que representam a diversidade de organizações que o compõe. Apresentam diferentes tamanhos, orientações estratégicas e configuram a obtenção das amêndoas de cacau de maneira distinta.

Dois estudos de caso envolvem o uso de formas não plurais, e um, de formas plurais. O caso que não utiliza formas plurais tem níveis menores de capacidades relacionais (capacidades dinâmicas) e maiores percepções de incerteza e de especificidade de ativos. Nos casos envolvendo formas não plurais há uma grande articulação de agentes na cadeia do cacau, que lhe confere elevado nível de capacidades dinâmicas. Há também percepção reduzida de incerteza e especificidade de ativos. Estes achados justificam a escolha da forma organizacional para obtenção do cacau, conforme esperado.

Os resultados evidenciam a influência das capacidades dinâmicas sobre a percepção dos níveis dos atributos transacionais, alterando a decisão eficiente. Quanto maiores as capacidades dinâmicas, menores as incertezas percebidas e, portanto, menos prevalente o uso de formas plurais (P1). Quanto maiores estas capacidades, menor a percepção da especificidade de ativos, e, portanto, menor será o nível de coordenação envolvido na transação (P2).

Menard, C., Saes, M. S. M., Silva, V. L., Raynaud, E. (2014). Desafios para a economia das organizacoes: Formas plurais (No. hal-01608931). Schnaider, P. S. B., Ménard, C., Saes, M. S. M. (2018). Heterogeneity of plural forms: A revised transaction cost approach. Managerial and Decision Economics, 39(6), 652-663. Teece, D. J., Pisano, G., Shuen, A. (1997). Dynamic capabilities and strategic management. Strategic management journal, 18(7), 509-533. Williamson, O. (2008). Outsourcing: Transaction cost economics and supply chain management. Journal of supply chain management, 44(2), 5-16.