Resumo

As temáticas socioambientais têm sido foco na busca de uma economia mais sustentável, incluindo alternativas mais eficientes para o tratamento do lixo e a reutilização de material, que deixa de poluir e realimenta as cadeias produtivas. Este estudo apresenta a importância social dos catadores de materiais recicláveis, através das narrativas de três associados à Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos Mãos Unidas de Benfica (COOTRAMUB), Rio de Janeiro, mostrando que as pessoas podem mudar a trajetória de suas vidas, fortalecendo suas identidades e dignidades, através do trabalho cooperado.

A sociedade busca alternativas menos agressivas ao meio-ambiente. Nesse cenário houve um expressivo aumento da conscientização social da relevância e tempestividade. No âmbito micro ambiental tem-se buscado alternativas mais eficientes para o tratamento do lixo, oportunizando a reutilização de grande parte do material não orgânico, que deixa de poluir e realimenta as cadeias produtivas. O objetivo é apresentar a relevância do serviço desenvolvido pelas cooperativas de materiais recicláveis, através da técnica de história oral, na construção da identidade e da dignidade de seus cooperados.

Na literatura Martins (2004), Magera (2005), Ribeiro e Besen (2007), Torres (2008), Jacobi e Besen (2011), Magni e Günther (2014) pontuam que o cooperativismo de reciclagem de materiais viabiliza mudanças nas vidas dos cooperados, como a identificação com o trabalho, sentimento de pertencimento e reconhecimento com o trabalho profissional de catador ou agente de limpeza, companheirismo, bem como uma percepção progressiva de dignidade e cidadania. Gonçalves (2006) e Medina (1998) acrescentam que os catadores ao recolocar na economia o material descartado pela sociedade transformam lixo em luxo.

Perazzo (2015) e Souza (2017) destacam que a história oral é um campo metodológico interdisciplinar fundamentado na interação humana, que compreende as narrativas dos sujeitos sociais, sendo relevante no campo da pesquisa qualitativa para o desenvolvimento de estudos sobre grupos sociais. Tais narrativas são relatos pessoais que cumprem a função de um veículo para o alcance daquilo que, de contrário, não seria possível. Os autores acrescentam que neste método, não se objetiva o alcance da verdade cabal, levando em consideração a subjetividade que se interpõe nas narrativas de cada indivíduo.

Eduardo Francisco Alves (2021) resume a estima de inúmeros catadores de materiais recicláveis pelo emprego na cooperativa dando identidade e dignidade. Marco Antônio Arlindo (2021), complementa que ser um cooperado representa a segurança de um futuro mais próspero e a autoestima recuperada pelo próprio trabalho lhe permite ser dono do próprio destino. A Célia Regina das Dores (2021) ressalta o sentimento de pertencimento ao grupo e o amor ao trabalho desempenhado e ainda acrescenta que fazer parte de uma cooperativa de catadores exprime um melhor futuro social.

O cooperativismo de material reciclável é relevante alternativa de trabalho para os excluídos dos melhores postos de trabalho. As narrativas dos três cooperados nos instigam a refletir sobre os aspectos envolvidos para a inserção social desses trabalhadores: ações do Estado, das organizações e dos cidadãos em geral, tais ações tem como uma premissa de sucesso a integração entre elas. Sendo a contabilidade uma ciência social, abordar temas de interesse da sociedade, divulgando responsabilidades dos atores sociais e seus efeitos em parcela da sociedade pouco assistida, faz parte de seu contexto.

JACOBI, P. R.; BESEN, G. R. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estudos Avançados, São Paulo, v. 25, n. 71, p. 135-158, 2011. MAGERA, M. Os empresários do lixo: um paradoxo da modernidade. Campinas: Átomo, 2005. SOUZA, R. A. D. C. Narrativas orais como fontes para uma compreensão histórica da experiência vivida. Revista Maracanan, Rio de Janeiro, n. 17, p. 118-129, jul./dez. 2017. VERONESE, M. V. Associativismo entre catadores de material reciclável urbano. Contemporânea – Revista de Sociologia da UFSCar. São Carlos, v. 6, n. 1, p. 213-236, 2016.