Resumo

Título do Artigo

Me organizando eu posso desorganizar? O papel de meta-organizações no desenvolvimento da cacauicultura na Amazônia
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Tema

Estudos da Amazônia

Autores

Nome
1 - José Augusto Lacerda Fernandes
Universidade Federal do Pará - UFPA - Faculdade de Administração (FAAD) | Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) Responsável pela submissão
2 - Fernando Dias Lopes
-
3 - Mariana Baldi
UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO

Reumo

Apesar de sua importância para o mundo, a Amazônia tem passado por um processo de destruição cada vez mais alarmante, tornando urgente o fortalecimento de uma economia da floresta em pé, capaz de aliar o uso sustentável da biodiversidade com a geração de renda e a promoção do bem-estar das populações locais (Abramovay, 2021). Nesse contexto, cadeias produtivas regenerativas como a do cacau têm motivado diversas ações conjuntas, envolvendo governos, universidades, empresas e associações. Com destaque para os arranjos concebidos pela literatura como meta-organizações.
Enquanto dispositivos de ação coletiva capazes de gerar inovações sustentáveis e aptos ao enfrentamento de desafios complexos (Berkowitz, 2018), meta-organizações podem ser vistas como grandes propulsoras de uma bioeconomia inclusiva na Amazônia, mas ainda há uma lacuna expressiva de conhecimento sobre a esses arranjos na região (Fernandes & Lopes, 2022). A fim de expandir os estudos sobre o tema para países do sul-global e de contribuir para a própria gestão dessas iniciativas, esse estudo buscou compreender o papel de meta-organizações no fortalecimento da cacauicultura na Amazônia.
Por serem compostas por outras organizações, meta-organizações possuem nuances que as diferenciam das organizações "tradicionais", nas quais a filiação é individual. Embora sejam caracterizadas por uma certa fragilidade estrutural (fruto da forte dependência dos seus membros), elas têm sido reconhecidas mais pelas suas potencialidades. Com destaque para a capacidade de articular os interesses e recursos de organizações distintas em prol de inovações e questões complexas, como é o caso do fortalecimento da bioeconomia da Amazônia; e, portanto, também o da cacauicultura, mais especificamente.
Para alcançar a compreensão almejada, realizou-se um estudo de caso sobre o programa Rota do Cacau na Transamazônica. Embora se trate de uma política pública implementada pelo governo federal, as "Rotas" são geridas por polos/comitês locais, compostos por inúmeras organizações presentes em cada território de atuação do programa. A partir de uma abordagem qualitativa, fez-se uma triangulação de fontes de dados, abarcando tanto documentos (relatórios e arquivos internos) e observações (em reuniões e eventos), como também entrevistas com gestores de organizações membro e do próprio programa.
As análises evidenciam que, apesar de ter passado por diferentes fases ao longo do seu desenvolvimento, o arranjo estudado tem conseguido orquestrar ações importantes para a cacaulicultura da Amazônia. Por meio de aspectos estruturais e processos característicos de meta-organizações, o "Rota" tem não só promovido uma agenda conjunta para o setor e viabilizado a captação de recursos públicos para projetos colaborativos entre diversos atores do campo (cooperativas, universidade, empresas e governos locais), como também reforçado um senso de coletividade entre as organizações membro do Polo.
Se, por um lado, essas descobertas corroboram o papel estratégico de meta-organizações no desenvolvimento de uma bioeconomia inclusiva e sustentável para a Amazônia, por outro, elas também convidam reflexões sobre a dependência de um único ator como provedor de recursos financeiros - o governo federal, no caso. Tópico que merece ser investigado em novas pesquisas, seja no âmbito da própria cacaulicultura ou de outras cadeias produtivas da sociobiodiversidade local, como as do açaí, mel e castanha, onde há meta-organizações com foco e atuação semelhante a do Rota do Cacau na Transamazônica.
Abramovay, R. et al. (2021). “The New Bioeconomy in the Amazon: Opportunities and Challenges for Healthy, Standing Forests and Flowing Rivers”. In: SCIENCE PANEL FOR THE AMAZON. Amazon Assessment Report. New York/São José dos Campos: Science Panel for the Amazon. Berkowitz, H. (2018). Meta-organizing firms’ capabilities for sustainable innovation: A conceptual framework. Journal of Cleaner Production, 175, 420–430. Fernandes, J. A. L., & Lopes, F. D. (2022). Matrioskas na floresta – uma agenda de pesquisa sobre Meta-Organizações na Amazônia. NAU Social, 13(24), 887-903.