Resumo

Um dos assuntos mais discutidos atualmente ao redor do mundo são os efeitos das mudanças climáticas. No Brasil, somando-se a esse cenário o aumento do preço dos combustíveis e a alta da inflação fez com que as famílias brasileiras passassem a guardar o gás de cozinha apenas para emergências e utilizasse a lenha. O uso de lenha nas residências indica um retrocesso em saúde e qualidade de vida, pois os níveis de partículas emitidas durante o processo de combustão ficam muito acima dos estipulados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), se tornando fatores de risco para vários tipos de doenças.

Diante da falta de autonomia energética voltada para a alimentação, das precárias condições de saúde e da qualidade de vida, e considerando as mudanças climáticas, o objetivo deste estudo é quantificar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas à construção de um forno solar do tipo caixa. O estudo possui três etapas: construir o inventário para o protótipo do forno solar, aplicar a metodologia da avaliação de ciclo de vida ao forno solar para quantificar as emissões GEE, e analisar as emissões de GEE obtidas quando o destino do produto é a reciclagem em vez do aterro sanitário.

A maioria das publicações indexadas sobre fornos e fogões solares, até o momento, apresenta avaliações termodinâmicas. No entanto, outro tipo de análise que pode ser desenvolvida adicionalmente é a ambiental, que pode focar em quantificar diferentes indicadores ecológicos. A ACV já foi aplicada a alguns tipos de fornos solares, como no trabalho de Andrianaivo e Ramasiarinoro (2014) que avaliou um forno solar parabólico, no de Chakma et al. (2021) que avaliou um forno solar tipo caixa com duplo espelho e no de Mendoza et al. (2019) que estudaram a sustentabilidade de fornos solares caseiros.

A avaliação do ciclo de vida está normatizada pela International Organization for Standardization (ISO) em suas normas ISO 14040 (2006) e ISO 14044 (2006), que no Brasil foram traduzidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nas normas de mesma numeração. Ela tem quatro etapas 1) definição de objetivos e do escopo; 2) construção do Inventário do Ciclo de Vida (ICV); 3) avaliação de impacto ambiental (escolha de um método de avaliação de impacto ambiental e aplicação ao ICV), e 4) resultados e interpretação.

O impacto ambiental do forno solar em análise quando o destino é o aterro sanitário é de 160kg CO2-eq, a maior contribuição ao impacto final está associada ao aço (58% das emissões finais). Depois do aço, a maioria das emissões associadas ao forno solar está relacionada ao descarte final em aterro sanitário. Quando os materiais potencialmente recicláveis (vidro e aço) são efetivamente encaminhados para reciclagem, há uma redução de 111,60 kg CO2-eq nas emissões finais. Nas análises, o alumínio tem maior emissão de CO2-eq por kg, mas por ser usado em baixa quantidade apresentou baixo impacto.

Os resultados demonstram que o forno solar tem baixas emissões referentes ao equipamento, obtendo uma redução de aproximadamente 70% das emissões de GEE quando a destinação dos componentes do equipamento é a reciclagem. Ressalta-se aqui a importância da compreensão do impacto ambiental de cada componente do dispositivo, assim como as a importância de estratégias para a destinação correta de resíduos.

ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2014a). Gestão Ambiental - Avaliação do Ciclo de Vida - Princípios e estrutura: NBR ISO 14040, Rio de Janeiro: ABNT. ASSOCIAÇÂO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2014b). Gestão ambiental - Avaliação do ciclo de vida - Requisitos e orientações: NBR ISO 14044, Rio de Janeiro: ABNT. Chakma, B., Serto, L., Kharpude, S., Narale, P., & Seveda, M. S. (2021). Life cycle assessment analysis, embodied energy evaluation and economic aspect study of double mirror reflector box type solar cooker for NEH region of Sikkim. International Journal of Green Energy, 1-18.