Resumo

A pandemia tem levado à catalisação da rota em direção à dinâmica sociotécnica, face às demandas e pressões sociais. Dentre os desafios destacam-se aqueles relacionados aos impactos ambientais, de bem-estar animal e segurança do alimento (food safety). Estes desafios representam elementos de ‘estresse’ com relação ao paradigma dominante (agronegócio) que podem evoluir para nova transição sociotécnica, adaptação ou para continuidade do ‘estresse’ (Geels, 2018).

Inserido em uma agenda maior, contemplada com fomento FAPESP (Auxílio Regular à Pesquisa, Processo No. 2020/13307-0), o presente artigo traz como questão norteadora: onde estamos e como caminhamos em direção à transição sociotécnica para sustentabilidade no ecossistema de alimentos? Desta questão, o objetivo geral é colocar uma lupa sobre a dinâmica sociotécnica sob a perspectiva microinstituições (organizações) e suas estratégias organizacionais voltadas a sustentabilidade. Especificamente as grandes corporações processadoras de alimentos são analisadas.

A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) é uma estratégia global adotada com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social de forma equilibrada com a proteção do meio ambiente. A implementação da Agenda 2030 é monitorada por meio do acompanhamento de relatórios anuais, que avaliam o progresso em relação a cada ODS. Contexto que coloca em evidência o interesse do artigo em curso, que são as práticas corporativas dedicadas ao atendimento dos ODS da Agenda 2030 da ONU declaradas nos relatórios corporativos (Arena et al., 2022;Hummel & Szekely, 2022;United Nations, 2015).

Busca-se examinar as rotas estabelecidas pelas empresas, procurando identificar convergência em direção à dinâmica sociotécnica. A partir desta fotografia empírica propõe-se uma análise do status quo dos padrões competitivos no ecossistema de alimentos, a partir da investigação de quais ODS possuem maior recorrência e de como as grandes empresas estão incorporando ESG (Environmental, Social and Governance), em termos de suas políticas e projetos organizacionais. Os dados são extraídos dos relatórios não financeiros das empresas analisadas.

A pesquisa empírica limita-se aos relatórios corporativos das Top 5 no mundo em processamento de alimentos, com relatórios corporativos abertos ao público. A análise foi centrada nos anos de 2019, 2020 e 2021, baseando-se no Ranking da Forbes e Packaging Strategies. Definido as empresas que seriam analisadas, parte-se para análise de conteúdo dos relatórios. A análise recai particularmente no ODS 12 Consumo e Produção Responsáveis, por se referir no estudo como o de maior recorrência pelas 5 líderes no processamento de alimentos conforme sinalizam em seus respectivos relatórios.

É possível observar que os ODS com maior quantidade de projetos desenvolvidos ao longo do tempo, são o ODS 12 Consumo e Produção Responsáveis, seguido pelo 8 Emprego Digno e Crescimento Econômico. A análise quantitativa dos relatórios evidencia qual é o caminho que as empresas estão seguindo e se os dados divulgados são coesos. As análises dos relatórios empoderam de um lado, mas restringem de outro, sendo necessário a realização de entrevistas com especialistas nas áreas de sustentabilidade corporativa, para assim, cruzar as informações divulgadas nos Relatórios não financeiros e validá-las.

ARENA, M., AZZONE, G., RATTI, S., URBANO, V. M., & VECCHIO, G. Sustainable development goals and corporate reporting: An empirical investigation of the oil and gas industry. Sustainable Development, 2022 GEELS, F. W. Socio-technical transitions to sustainability. In: Oxford Research Encyclopedia of Environmental Science, 2018 HUMMEL, K., SZEKELY, M. Disclosure on the sustainable development goals– evidence from Europe. Accounting in Europe, v. 19, n. 1, p. 152-189, 2022. United Nations General Assembly. (2015). Resolution adopted by the General Assembly on 25 September 2015 (A/RES/70/1).