Resumo

No século XX, com a industrialização e a consolidação do sistema capitalista, a condição de submissão e acomodação das mulheres aos papéis tradicionais de esposa, mãe e dona de casa passaram a ser questionadas. Isso resultou na entrada das mulheres no mercado de trabalho e na conquista de espaços que antes eram exclusivos dos homens (KANAN, 2010). Enquanto a presença das mulheres foi crescente e significativa no mercado de trabalho a partir de então, a nível de cargos de política e gestão, a evolução tem acontecido de forma mais modesta (MOLLER; DA SILVA GOMES, 2010).

Compreender o universo das desigualdades de gênero, as percepções acerca da liderança feminina e os desafios enfrentados pelas mulheres na busca desses cargos levantou o problema de pesquisa: qual é a percepção feminina em relação às oportunidades e diferenças de gênero nos cargos de liderança? Para responder a esse questionamento, definiu-se como objetivo geral analisar a percepção feminina sobre as oportunidades e as diferenças de gênero nos cargos de liderança em uma instituição pública no Estado de Mato Grosso.

O estudo partiu das teorias clássicas: traços de personalidade, estilo de liderança e liderança situacional buscando a compreensão do avanço dos estudos sobre liderança. Além disso, foram analisadas as abordagens que exploram as particularidades gerenciais relacionadas aos fenômenos e/ou metáforas da liderança feminina, tais como "abelha rainha", "teto de vidro" e "labirinto", considerando o aspecto binário homem/mulher na representação da liderança.

Utilizou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa básica de natureza exploratória, com a coleta de dados por meio de pesquisa documental e entrevistas. A base de dados da pesquisa documental foi atendida a partir do Sistema Estadual de Administração de Pessoas (SEAP), fornecida pela Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG), abrangendo um período de 10 anos, de 2012 a 2022, para análise descritiva do número de mulheres e homens ocupando cargos de liderança. As entrevistas foram conduzidas com 5 mulheres em posições de liderança distintas.

As entrevistadas demonstram que possuem estilos de liderança singulares, que se assemelham à liderança democrática. A percepção das entrevistadas indica que elas adotam uma liderança orientada para pessoas, priorizando as necessidades e o bem-estar dos membros da equipe. As particularidades gerenciais que exploram o binário homem/mulher para representação da liderança pouco ou quase nada interferem na percepção das entrevistadas. Os fenômenos “teto de vidro” “abelha rainha” e “labirinto” não foram evidenciados na percepção de liderança das entrevistadas.

Os resultados revelaram uma disparidade significativa de gênero, com as mulheres ocupando apenas 36% dos cargos de gestão entre 2012 e 2022. Os fenômenos "queen bee", "teto de vidro" e "labirinto" tiveram pouca ou nenhuma relevância pois as mulheres acreditam que a liderança deve ser avaliada com base na capacidade de influenciar pessoas, pensar estrategicamente e conduzir equipes. A liderança feminina na instituição pesquisada é percebida como transformacional, democrática, orientada para pessoas e desvinculada das questões de gênero.

CAPPELLE, M. C. A.; MELO, M. C. O. L.; SOUZA, N. L. Mulheres, trabalho e administração. Revista Interdisciplinar de Gestão Social, v. 2, n. 2, p. 161-191, 2013. EAGLY, A. H.; CARLI, L. L. Women and the Labyrinth of Leadership. Harvard Business Review 85 (9): 62-71. 2007. KANAN, L. A. Poder e liderança de mulheres nas organizações de trabalho. Organizações & Sociedade, v. 17, p. 243-257, 2010. MOLLER, M. A. B.; DA SILVA GOMES, J. F. Quid Vincit? O impacto da liderança feminina na implicação organizacional. Análise Psicológica, v. 28, n. 4, p. 683-697, 2010.