Resumo

Cidadania corporativa (CC) é um importante conceito do campo da gestão responsável cujo cenário de pesquisa, contudo, mostra-se complexo, marcado por períodos de instabilidade no que se relaciona ao número de publicações, com investigações majoritariamente teóricas (KRUGGEL; TIBERIUS; FABRO, 2020, p. 13, tradução nossa). Em um estudo recente, Park et al. (2023) sinalizam a insuficiência conceitual vinculada a CC visto seu alto grau de abstração e reforçam a necessidade de estudos focados em "refinar e materializar ainda mais o conceito" (PARK et al., 2023, p. 10, tradução nossa).

Buscando aprimorar o conceito de cidadania corporativa por meio da visão baseada em recursos, esta pesquisa teve como objetivo caracterizar e definir a capacidade de cidadania corporativa. Isso porque a capacidade de CC é, nas literaturas de gestão responsável e gestão estratégica, pouco explorada e, consequentemente, pouco compreendida. A escassez de investigações faz com que ainda não se compreenda o domínio dessa capacidade organizacional, minando a evolução conceitual de CC e o entendimento dessa função presente na realidade de diferentes organizações.

Fundamentada na responsabilidade empresarial e na visão baseada em recursos, a pesquisa adota cidadania corporativa como o papel social da empresa em administrar direitos de cidadania dos indivíduos, enquanto provedora de direitos sociais, facilitadora de direitos civis e canalizadora de direitos políticos, num contexto de ausência e/ou insuficiência governamental (MATTEN; CRANE, 2005). Capacidade organizacional é definida como uma habilidade de mobilizar um conjunto de recursos de maneira coordenada e contínua com propósito de alcançar determinado resultado (HELFAT; PETERAF, 2003).

Foi realizado um estudo de casos múltiplos (com base em Eisenhardt (1989)) que, fundamentado em uma amostra teórica, analisou três empresas de diferentes setores cuja promoção de direitos de cidadania se mostrou recorrente e institucionalizada. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e diversos documentos, sendo submetidos a uma análise qualitativa com caráter within-case e cross-case (guiada, em especial, pelas diretrizes de Miles, Huberman e Saldaña (2014)).

A partir dos resultados, foi elaborada uma estrutura conceitual que, contemplando os indicadores operacionais e os atributos constituintes, define a capacidade de cidadania corporativa como um conjunto coordenado de atividades realizadas de maneira voluntária, em consonância com as demandas da sociedade, por meio da mobilização de atores diversos e de forma a assumir um papel político-social com o propósito de se engajar em desafios sociais mais amplos. Os achados da pesquisa, simultaneamente, corroboram, desafiam e expandem os conhecimentos relacionados à cidadania corporativa.

A definição estabelecida promove a evolução conceitual de cidadania corporativa e a compreensão de uma capacidade organizacional inédita, contribuindo com os campos da gestão responsável e da gestão estratégica. Ademais, os resultados do estudo contribuem para a prática gerencial (uma vez que guiam a atuação de organizações interessadas em promover direitos de cidadania de maneira coordenada e contínua), suscitando, consequentemente, benefícios sociais relacionados à promoção de direitos fundamentais.

EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, v. 14, n. 4, p. 532-550, 1989. HELFAT, C. E.; PETERAF, M. A. The dynamic resource?based view: Capability lifecycles. Strategic Management Journal, v. 24, n. 10, p. 997-1010, 2003. MATTEN, D.; CRANE, A. Corporate citizenship: Toward an extended theoretical conceptualization. Academy of Management Review, v. 30, n. 1, p. 166-179, 2005. PARK, J. G. et al. Characterization of CSR, ESG, and Corporate Citizenship through a Text Mining-Based Review of Literature. Sustainability, v. 15, n. 5, p. 3892, 2023.