Reumo
Os desafios econômicos e ambientais crescentes em âmbito mundial fez surgir em 2015, a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Eles emergiram em um contexto de crescente conscientização global sobre a necessidade de abordar de maneira holística os desafios sociais, econômicos e ambientais. Neste contexto de crescente conscientização, aliada à regulamentação e à pressão dos consumidores, as organizações assumem um papel relevante, mas que é acompanhado de responsabilidade não somente no apoio de práticas e ações ambientais e sociais, mas também têm sido instadas a fornecerem evidências de que estão fazendo a sua parte (PIKATZA-GORROTXATEGI et al., 2024). As ações das organizações para dar conta deste novo papel tem sido aglutinadas a partir do conceito de ESG (Environmental, Social, and Governance) que envolve uma série de princípios e práticas distribuídas entre as três dimensões: ambiental, social e de governança. A ideia de ESG vem sendo adotada como um equivalente de sustentabilidade empresarial (OLSSON; KRUGER, 2021; CAPORALE et al., 2022) e as métricas a ela associadas fornecem os critérios para avaliar as ações e práticas organizacionais (SILVA et al., 2021; MORAES et al., 2024) frente as exigências dos stakeholders. A dimensão social do ESG envolve questões ligadas à forma como as organizações gerenciam suas relações com empregados, fornecedores, clientes e comunidades. Dentre estas questões, destaca-se o cuidado com a saúde mental dos trabalhadores. Trata-se de questão relevante e com ações recomendadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2024), mas que ainda carecem de conhecimento, tanto das ações quanto do seu impacto para as pessoas e ambiente de trabalho. Alves e Ramos (2022), examinaram a qualidade das divulgações de saúde e segurança no trabalho, sendo que 53% das empresas optaram por não divulgar questões sobre doenças relacionadas ao trabalho. Neste contexto emerge a problemática norteadora da pesquisa: Quais as principais práticas de saúde mental adotadas pelas empresas listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3? Com o objetivo de identificar as principais práticas de saúde mental adotadas por empresas listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial ISE-B3 a partir da análise dos indicadores Global Reporting Iniciative GRI-403. Metodologicamente a pesquisa se caracteriza como descritiva, realizada a partir estudos multicasos com análise documental e abordagem de cunho qualitativa. Quanto à abordagem qualitativa, ela foi escolhida porque permite estudos mais aprofundados e uma aproximação melhor com o fenômeno de estudo. A partir da abordagem adotou-se uma estratégia multicasos. Foram escolhidos onze casos de dois setores: alimentos (5) e financeiro (6). As empresas foram escolhidas por conveniência e acessibilidade, por estarem listadas na B3 e inseridas no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) e por fornecem informações e ações específicas acerca da saúde dos trabalhadores. A técnica de coleta de dados foi a documental. Para analisar os dados foi utilizado como check list os critérios do modelo Global Reporting Iniciative (GRI), o GRI 403-2018 (vigência a partir de 2021). Dessa maneira, por meio da consulta em homepages oficiais das empresas estudadas, a partir de análise dos relatórios de sustentabilidade de 2022, foram analisadas as informações das seguintes empresas: (1) BRF, (2) Camil, (3) M. Dias Branco, (4) Marfrig, (5) Minerva Foods e 6 do setor financeiro: (6) Banco Pan, (7) Banco Bradesco, (8) Banco do Brasil, (9) BTG Pactual, (10) Banco Itaú e (11) Banco Santander, foram verificados quais indicadores GRI 403 foram reportados por tais empresas, bem como as iniciativas voltadas à saúde mental dos trabalhadores constam nos respectivos relatórios dessas organizações. A partir da coleta e análise identificou-se os indicadores considerando: 0 - Não atende/não evidencia; 1 - Atende/evidencia de forma parcial; 2 - Atende/evidencia com dados qualitativos e quantitativos. Os resultados permitiram identificar que mesmo com iniciativas carentes de maior desenvolvimento no quesito GRI-403-10, 8 das 11 organizações possuem algum programa voltado à saúde mental dos colaboradores, com maior destaque para as organizações do setor financeiro, contudo, apenas duas apresentam mais detalhadamente os seus programas de suporte psicológico e os resultados apurados em relação ao número de atendimentos efetivados no respectivo ano de 2022. Entre os programas observados constatou-se Programa de Apoio Pessoal, com atendimento gratuito por especialistas em orientação psicológica, orientação financeira e orientação jurídica por telefone, de maneira confidencial e sigilosa, inclusive uma instituição possui disponível tais benefícios para colaboradores e seus dependentes. Os resultados indicaram que 8 das 11 empresas analisadas possuem programas de saúde mental, com destaque para o setor financeiro. Contudo, apenas duas delas fornecem detalhes sobre seus programas de suporte psicológico. A pesquisa destaca a necessidade de maior comprometimento das corporações com a saúde mental dos colaboradores, um aspecto fundamental para as metas do ODS 3. Observou-se também que as empresas estão implementando programas voltados para atender as demandas relacionadas a saúde mental e e bem-estar, incluindo atendimentos psicológicos. No que se refere à contribuição teórica, esse estudo permitiu uma análise das práticas de sustentabilidade das empresas do mercado financeiro divulgadas em relatórios, de forma destacar o pilar social do ESG. Salienta-se a importância do tema voltado a saúde mental e sua relevância no contexto da Agenda 2030 e do ODS 3. Quanto à contribuição prática, as organizações podem utilizar a análise desenvolvida para reavaliar suas ações de sustentabilidade e práticas sociais. Isso permitirá fortalecer a responsabilidade social corporativa e focar em melhorias na gestão de recursos humanos, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de programas de saúde mental para os colaboradores. Este trabalho tem como principais limitações a análise restrita ao ano de 2022, o último disponível para pesquisa e coleta de dados, e a delimitação da amostra (apenas 11 empresas de dois setores listadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial - ISE-B3). Futuras pesquisas poderão examinar de forma mais abrangente as práticas de saúde mental mencionadas nos relatórios de sustentabilidade de todos os setores das empresas B3. Além disso, outro aspecto que poderá ser explorado em estudos futuros é a compreensão de como a dimensão social da sustentabilidade afeta o desempenho em ESG pelas organizações.