Reumo
Este artigo buscou discutir a integração da polinização no processo de restauração florestal. A restauração florestal faz parte da contribuição brasileira no Acordo de Paris, adotado em 2015 na COP21. Este acordo internacional visa limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C, com esforços para restringi-lo a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. A Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil inclui metas de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e estratégias climáticas, além da restauração de 12 milhões de hectares de áreas florestais.
Para esse fim, o artigo examinou o plano de restauração florestal no âmbito nacional (Planaveg) e as quatro versões da NDC brasileira. Como resultado, apesar da inserção da polinização na cadeia da restauração trazer ganhos nos benefícios ambientais, sociais e econômicos, incrementando o impacto positivo das duas cadeias, ela não está presente no Planaveg (nesse sentido), além de não ser mencionada nas 4 versões das NDC brasileiras. Essa integração das cadeias produtivas também gera impactos para a sociedade civil como um todo e para o planeta, auxiliando na remoção de GEE como o CO2, contribuindo assim para a mitigação do aquecimento global e a manutenção da biodiversidade, essenciais para a segurança alimentar.
Os polinizadores desempenham um papel de suma importância na produção de alimentos, pois cerca de 75% da produção mundial depende, em parte, dos serviços de polinização que esses agentes oferecem à agricultura. Além disso, aproximadamente 90% de todas as plantas silvestres do planeta também contam diretamente com a polinização. Outro ponto é que essas abelhas dependem de néctar e pólen das flores para sua própria sobrevivência
Como visto a NDC brasileira na medida adicional de recuperação florestal, não impõe de que maneira essa área deverá ser restaurada. Tomando por base a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (LPVN) e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), a restauração pode ser dar com espécies exóticas e com manejo sustentável, podendo ser inseridos nessas locais integrações de florestas e agricultura. Nesse cenário, a inserção da meliponicultura na cadeia produtiva da restauração poderia trazer um resultado positivo, potencializando os benefícios de ambas as cadeias
O Planaveg (MMA, 2014) defende que a recuperação de áreas degradadas ou alteradas proporciona benefícios ambientais, econômicos e sociais significativos. Reconhecer a polinização como importante aliado à restauração traz ganhos potenciais não só para o ambiente como para criação de renda para sociedade. Sendo assim, a integração da polinização na restauração florestal, além de beneficiar o país com a possibilidade do cumprimento em partes do Acordo de Paris, ainda potencializaria os benefícios de ambas as cadeias em relação a produção de alimentos. A criação de abelhas sem ferrão, denominada meliponicultura, é uma atividade tradicional nas populações ribeirinhas e rurais em geral, que aos poucos vai se tornando padronizada para facilitar a criação (Imperatriz-Fonseca et al, 2024).
O estudo aponta que dentre os benefícios da cadeia de restauração está a manutenção da biodiversidade, importante para a meliponicultura. Já na cadeia de meliponicultura estão presentes a recuperação ambiental e os serviços ecossistêmicos, destacando-se a produção de mel e propolis, que traz um recurso econômico complementar para a população local, reafirmando a importância e a sinergia das duas cadeias produtivas, principalmente no contexto das mudanças climáticas e da insegurança alimentar.
Dessa maneira, integrar as duas cadeias produtivas poderá resultar em ganhos que perpassam os benefícios ambientais e adentram os benefícios sociais e econômicos. Como o aumento da produtividade agrícola, a geração de emprego e renda, dentre outros. Outro importante ponto nesse contexto são os benefícios dessa integração no cumprimento da medida adicional de restauração florestal presente na NDC brasileira, auxiliando dessa maneira o país em seu objetivo de redução de GEE. Os achados deste artigo sugerem maior atenção das políticas em estimular a combinação da polinização com as cadeias agrícolas em especial a da restauração.