Reumo
O cooperativismo brasileiro vem se expandindo ao longo das últimas décadas e há o esforço das cooperativas no cumprimento de diferentes exigências e regulações, tanto do mercado, quanto de demandas internas do cooperativismo, presentes em suas operações. Dentre os sete princípios do cooperativismo está o “Interesse pela comunidade” onde as cooperativas, por meio dos fundos sociais, exercem uma função primordial com inúmeras iniciativas e projetos em suas comunidades de atuação. Entretanto, o que se percebe na prática é que são ações dispersas que muitas vezes não chegam a ter impactos sociais transformadores. Tal fato se deve ao próprio processo de amadurecimento na implantação desse princípio, tendo e vista que ele foi incluído no ano de 1995 após revisão dos princípios cooperativistas em nível global, ação conduzida pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI). Nessa perspectiva, percebe-se a fragilidade na compreensão sobre as ações necessárias para alcançar esse objetivo de forma que haja o impacto social nas comunidades e para que se cumpra a premissa desse princípio que é o “desenvolvimento sustentado das suas comunidades, através de políticas aprovadas pelos membros” conforme dissemina a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em seu Manual de Governança Cooperativa, publicado em 2015. Mais recentemente, com o fortalecimento da temática da sustentabilidade nas organizações e a necessidade de comprovação de ações por meio de indicadores de ESG, seja por exigência do próprio mercado ou por iniciativa da própria cooperativa, o que se vê é que elas têm evoluído nessa perspectiva e, com isso, reorganizam seus programas à luz dos eixos de responsabilidade social e investimento social privado. Ao examinar mais minuciosamente esse ponto, é evidente a importância de qualificar as iniciativas financiadas pelo fundo social das cooperativas para atender ao princípio de “Interesse pela comunidade”, ao mesmo tempo em que passam a atender também aos indicadores ESG. Ao considerarmos, por sua vez, que as cooperativas dialogam com o mercado, pois mantém diferentes tipos de negócios, elas passam a demonstrar suas práticas sustentáveis por meio de relatórios cada vez mais qualificados a exemplo do GRI, SASB, IFRS1, IFRS2 dentre outros, passando a ser fundamental a qualificação de indicadores, metas e consequentemente das ações realizadas por elas. O presente estudo teve por objetivo compreender como o princípio do “interesse pela comunidade” possui aproximação ou se vincula com a temática do ESG e de que forma é desdobrado. Para isso, foi desenvolvido com base em revisão bibliográfica contemplando as temáticas: cooperativismo e interesse pela comunidade; responsabilidade social corporativa, investimento social privado, ações assistencialistas, sustentabilidade e ESG; e impacto social. Os resultados demonstram evidências importantes acerca do ineditismo da abordagem realizada, a partir da ausência de estudos que contemplem a convergência dos temas analisados, bem como apontam para perspectivas promissoras no sentido de servirem de base para novos estudos mais aprofundados sobre a temática. A conclusão do estudo demonstra que é necessária uma revisão significativa do próprio conceito do princípio do cooperativismo: “interesse pela comunidade” à luz da temática da responsabilidade social, sustentabilidade e ESG, tendo em vista os novos níveis de exigência na comprovação das ações realizadas bem como a efetividade das mesmas, sem, portanto, abrir mão da filosofia cooperativista. Diante disso, surgem oportunidades importantes para que as cooperativas se tornarem referência sendo organizações que se comprometem com o desenvolvimento das comunidades, a partir do desenvolvimento territorial. Mas, por outro lado, a depender do entendimento de dirigentes, corre-se o risco de seguir em direção oposta, tal como responder mais às demandas de seus próprios cooperados que ocupam os mesmos territórios ou atender mais ao mercado, afastando-se em certa medida dos princípios que regem a filosofia cooperativista, comprometendo os objetivos sociais da cooperativa.