Reumo
O Brasil é um país megadiverso e rico em diversidade genética de frutas tropicais, muitas das quais têm se revelado fontes importantes de vitaminas, minerais e energia. Nos últimos anos, tem crescido a consciência sobre o potencial dessas frutas nativas não apenas para a alimentação, mas também para a melhoria da renda familiar, geração de emprego, especialmente para mulheres, e proteção ambiental. Nessa perspectiva, levar ao conhecimento da sociedade o valor das frutíferas nativas da Mata Atlântica torna-se uma importante estratégia para sua conservação e uso sustentável. Entretanto é necessário que as pessoas conheçam a Mata Atlântica e que de alguma forma esse bioma lhes diga respeito, ou seja, tenha algum significado em suas vidas. Dessa forma, nas ciências da sustentabilidade e da conservação, a aprendizagem social para a sustentabilidade (ASpS) é definida como um processo de grupo que depende da confiança e do capital social e tende a impulsionar os resultados da conservação. Chamamos isso de “aprendizagem social colaborativa”, onde um “processo de aprendizagem interativo e coletivo que pode reunir uma ampla gama de partes interessadas, apoiar a cocriação de conhecimento, melhorar a compreensão coletiva de quais ações são necessárias, bem como fortalecer a disposição para ação conjunta e defesa”. Atualmente, os autores ampliaram os estudos sobre o que os indivíduos aprendem, como aprendem, com quem aprendem, quando aprendem. Como resultado, pouco se avançou em pesquisas que apontam quem as pessoas se tornaram, que mudanças de significados ocorram na vida dessas pessoas. Nessa pesquisa, avaliou-se um processo de ASpS no sul do Brasil, envolvendo instituição de ensino superior pública e o Geoparque Quarta Colônia, bem como um grupo de mulheres da comunidade local em ações interativas, durante a realização do curso de qualificação do projeto “Progredir” chamado ‘Do Mato ao Prato’. O objetivo do curso foi propiciar conhecimentos sobre formas de utilização de frutíferas da Mata Atlântica na ecogastroeconomia. Desse modo, o objetivo da pesquisa é compreender como mulheres, após experienciarem esse processo de ASpS, estão mudando de uma condição de não-saber para se tornarem engajadas em ações que valorizem a floresta em pé. A metodologia da pesquisa é qualitativa interpretativa e foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas na perspectiva da ciência narrativa. A narrativa que emergiu das análises aponta três momentos: 1) o antes, mulheres vivendo numa condição de não-saber sobre as potencialidades da floresta; 2) o agora, mulheres engajadas em ações de valorização da floresta; e 3) o depois, mulheres prospectando o futuro. Conclui-se que o processo de ASpS promove mudanças de comportamentos e possibilita novos modos de ser às mulheres. A originalidade dessa pesquisa é a contribuição teórica, pois, nesse artigo, propõe-se retomar aspectos que foram pouco abordados, mas que são essenciais no conceito seminal da teoria da ASpS: a mudança de comportamento. O processo de ASpS observado neste estudo não apenas capacitou as mulheres, mas também instigou uma reflexão mais profunda sobre suas próprias identidades e sobre a importância da preservação ambiental. As mudanças observadas nas atitudes e práticas dessas mulheres evidenciam o potencial transformador da educação ambiental e do engajamento comunitário. Nesse sentido, a continuidade do empreendedorismo inovador das mulheres no Geoparque Quarta Colônia frente aos produtos da Mata Atlântica depende diretamente da formação de uma rede de instituições para dar suporte a logística que demanda o estabelecimento desse processo.