Reumo
Para garantir relevância e sucesso duradouro, as empresas estão cada vez mais buscando aplicar a sustentabilidade como uma estratégia crucial, alinhando-se às exigências globais atuais. Sustentabilidade, de forma ampla, reflete o progresso em direção a um mundo mais equitativo e próspero, preservando tanto o meio ambiente quanto as conquistas culturais para as futuras gerações (Dyllick e Hockerts, 2002). Em um contexto corporativo, a sustentabilidade envolve a integração de preocupações sociais e ambientais nas operações e relações da empresa.
Para que as ações sustentáveis sejam eficazes e reconhecidas, elas devem ser incorporadas em todos os níveis organizacionais, desde a alta gerência até as operações diárias. O envolvimento da liderança é fundamental para criar uma cultura sustentável, garantindo que as ações sejam consistentes e sinérgicas em toda a organização (Dangelico e Pujari, 2010).
A Governança Corporativa emerge como um elemento vital para promover a sustentabilidade, englobando práticas e relações entre todas as partes interessadas, tanto internas quanto externas. Ela busca maximizar o valor dos ativos da empresa por meio da transparência, proteção dos direitos dos acionistas, equidade e prestação de contas. As regras de Governança Corporativa visam assegurar a eficiência da empresa e alinhar os interesses das partes interessadas, incentivando a inovação e garantindo que essas inovações estejam alinhadas com os princípios de sustentabilidade (Ramos e Martinez, 2006). A inovação desempenha um papel crucial ao permitir a valorização das estratégias competitivas e a melhoria das práticas produtivas, bens e serviços oferecidos pelas organizações.
Este estudo analisa como práticas sustentáveis e inovação interagem no contexto da governança corporativa, abordando a relação entre esses elementos em diferentes países. A pesquisa é motivada pela crescente necessidade de compreender como o contexto de governança influencia os níveis de práticas e inovação sustentáveis (Ardito, 2023).
A pesquisa abrange 35 países europeus, utilizando dados do Flash Eurobarometer 486 de 2020. A abordagem quantitativa com dados secundários do Eurobarometer e do World Bank fornece indicadores socioeconômicos e de governança. Embora os dados sejam de um período anterior, sua relevância para análises contemporâneas é reconhecida. O estudo usa regressões lineares multinível para analisar práticas sustentáveis, definidas como ações que promovem o desenvolvimento econômico, social e ambiental equilibrado nas organizações, tanto na administração quanto entre os colaboradores.
As variáveis consideradas incluem: (1) Reciclagem e reutilização de materiais, (2) Redução do impacto sobre recursos naturais, (3) Economia de energia e uso de fontes sustentáveis, (4) Desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis, (5) Melhoria das condições de trabalho, (6) Promoção da diversidade e igualdade, (7) Avaliação do impacto da empresa na sociedade, e (8) Engajamento dos funcionários na governança. As organizações autorrelataram a adoção dessas práticas, com pontuações variando de 0 (não adota) a 8 (adota todas as práticas).
Além dessas variáveis, foram incluídos controles como o tamanho da organização, faturamento anual e PIB per capita. O PIB per capita, devido a sua assimetria, foi transformado para normalização. As variáveis de inovação sustentável foram medidas pela adoção de inovações com benefícios ambientais ou sociais, com pontuações de 0 a 2.
No nível dos países, foi utilizado o indicador de avaliação da eficácia governamental do World Bank (2022), refletindo a qualidade dos serviços públicos, desempenho da função pública e eficácia na implementação de políticas. A análise de regressão multinível revelou que o modelo nulo, que considera apenas o intercepto, foi significativo, com 27,4% da variação nas práticas sustentáveis atribuída às diferenças entre países.
O segundo modelo, que inclui variáveis de controle e inovação sustentável, mostrou melhorias significativas em comparação com o modelo nulo. Variáveis como o tamanho da organização e faturamento anual tiveram efeitos positivos e significativos nas práticas sustentáveis.
O terceiro modelo, que incorpora variáveis de nível macro como governança e PIB per capita, revelou uma forte relação entre a eficácia governamental e a adoção de práticas sustentáveis. A eficácia na governança e um PIB per capita mais alto estavam positivamente correlacionados com maiores níveis de práticas sustentáveis nas empresas.
O estudo conclui que uma governança corporativa robusta é crucial para orientar as empresas em direção à sustentabilidade. A combinação de inovação sustentável e governança eficaz melhora a resiliência das empresas e impulsiona o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Empresas que adotam práticas sustentáveis e investem em inovações para reduzir o impacto ambiental tendem a apresentar melhor desempenho. O estudo sugere que futuras pesquisas adotem uma abordagem multidisciplinar para compreender melhor as práticas sustentáveis em um contexto global.