Reumo
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em maio de 2024 geraram uma grande onda de solidariedade, impulsionada por campanhas de arrecadação de fundos e mobilização massiva através de influenciadores digitais e organizações de caridade. Inicialmente, a ampla cobertura midiática e o apelo emocional resultaram em um aumento significativo nas doações, com contribuições médias diárias chegando a R$ 250.000,00 e influenciadores arrecadando grandes somas rapidamente. No entanto, à medida que a cobertura na mídia diminuiu, houve uma desmobilização drástica do apoio, refletida na queda acentuada das doações e na redução do engajamento nas campanhas. Esse fenômeno de desmobilização após a cobertura midiática é recorrente em crises humanitárias, onde o apoio público e financeiro tende a declinar rapidamente após o pico de atenção. A rápida diminuição das doações após o apelo inicial levantou questões sobre a eficácia das campanhas de arrecadação em manter o suporte a longo prazo e garantir que as vítimas recebam o apoio necessário até que possam se recuperar totalmente. A análise qualitativa dos dados revela que, apesar do grande volume inicial de doações, a falta de continuidade no suporte resultou em sérias lacunas nas necessidades básicas das comunidades afetadas. Muitos moradores ainda enfrentavam escassez de alimentos, água potável e materiais para reparos em suas casas, devido à ausência de cumprimento de promessas de ajuda. ONGs e influenciadores enfrentaram grandes desafios em manter o fluxo de recursos e apoio voluntário, com a falta de planejamento para a continuidade das campanhas após o pico inicial. O impacto da mídia na mobilização de recursos para desastres é significativo, mas sua influência tende a ser efêmera. A cobertura midiática cria um sentido de urgência e apelo emocional, que pode gerar uma resposta rápida e substancial. Contudo, a queda na visibilidade midiática frequentemente leva a uma rápida redução nas doações e no apoio voluntário, o que compromete a eficácia das campanhas a longo prazo. Esse fenômeno, muitas vezes denominado “fadiga da compaixão,” evidencia como a resposta às crises pode ser instável e insustentável quando depende excessivamente da visibilidade temporária e do engajamento emocional. Os resultados observados têm implicações diretas para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. A falta de continuidade no apoio após desastres afeta negativamente o ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e o ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), pois muitas famílias afetadas não tiveram acesso aos recursos essenciais para sua recuperação e sobrevivência. Além disso, a ausência de uma resposta sustentada compromete o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), ao não atender às necessidades básicas de saúde das populações afetadas. O fenômeno observado também reforça a importância do ODS 10 (Redução das Desigualdades), já que a desmobilização das doações acentuou as desigualdades enfrentadas por comunidades vulneráveis. Por fim, a necessidade de estratégias de mobilização de recursos mais eficazes e sustentáveis está alinhada com o ODS 17 (Parcerias e Meios de Implementação), que busca fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. Portanto, as lições aprendidas com a resposta às enchentes e a desmobilização subsequente sublinham a importância de alinhar estratégias de arrecadação e mobilização de recursos com os princípios dos ODS. Um planejamento mais robusto e integrado pode não apenas melhorar a eficácia das respostas a desastres, mas também contribuir para o avanço dos objetivos globais de desenvolvimento sustentável, promovendo uma assistência mais equitativa e sustentável para todas as comunidades.