Reumo
1 INTRODUÇÃO
Desastres com consequências permanentes e danos sociais e econômicos incalculáveis causados por eventos naturais são destaque frequente no noticiário global contemporâneo, inclusive no Brasil. O país enfrenta eventos extremos regularmente em todo o seu território, desde secas a chuvas intensas. Em maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul recebeu um volume altíssimo de chuvas, resultando em deslizamentos e inundações históricas. Mais de 8,2 milhões de pessoas estão expostas a inundações, enxurradas e deslizamentos em todo Brasil (IBGE, 2018). Esse cenário reforça a ideia de que estamos na era das sociedades de riscos e desastres. Para Alvalá e Barbieri (2017), os países necessitam intensificar suas ações de antecipação, planejamento e redução de riscos dos desastres naturais, visando a proteção de pessoas e comunidades de forma mais efetiva, bem como a urgência de construir maior resiliência. Buscando auxiliar no incremento das ações educativas atreladas às mudanças climáticas, este estudo caracteriza o cenário da aplicabilidade dos programas obrigatórios de Educação Ambiental (EA) e de Educação para Redução do Risco de Desastres (ERRD) nas escolas da Região Metropolitana de Porto Alegre, após as enchentes que acometeram a região.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A adaptação às mudanças climáticas exige uma abordagem integrada que considere tanto as dimensões físico-espaciais, quanto ambientais e sociais. Neste contexto, as iniciativas educacionais que informam e capacitam os cidadãos sobre os riscos e medidas de proteção podem aumentar significativamente a eficácia das políticas de resiliência (Kates et al., 2012). Da-Silva-Rosa et al (2015) apresentam a EA como fator fundamental para uma compreensão mais complexa da realidade, ao integrar diferentes campos científicos, reconectando o ser humano com a natureza. Para Marchezini et al (2019), a ERRD é um processo de participação que envolve o entendimento, a conscientização e a capacitação das pessoas para atuarem na prevenção, mitigação, emergência e resiliência aos desastres. Existem documentos internacionais, como a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Art. 6º), o Marco de Ação de Hyogo (UNISDR, 2005), e o quadro Sendai 2015-2030 (UNISDR, 2015), além de instrumentos normativos brasileiros em EA, Mudanças Climáticas e Prevenção de Desastres. A educação é fundamental para a redução de riscos e desastres, alinhando-se aos princípios da EA crítica para promover processos reflexivos e participativos para a construção de uma sociedade sustentável (Loureiro, 2004). A conscientização ambiental deve ser promovida através de uma educação que reconheça a interdependência entre desenvolvimento, natureza e vulnerabilidades, integrando o ser humano na gestão de riscos e desastres relacionados ao clima.
3 METODOLOGIA
Foi realizada uma revisão bibliográfica da produção técnico-científica voltada à ERRD. Após, desenvolvemos um questionário semiestruturado, cujo objetivo foi identificar a percepção sobre educação ambiental para ERRD por professores de escolas de ensino fundamental e médio da Região Metropolitana de Porto Alegre, composta por 32 cidades. O questionário foi aplicado via formulário Google Forms composto por 19 questões, sendo 17 objetivas e 03 dissertativas. Participaram deste estudo 102 professores.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa realizada apontou que 40,2% dos respondentes tiveram suas escolas atingidas diretamente pelas enchentes. Muitos (57,8%) não se sentem preparados para trabalhar a redução de riscos em desastres climáticos em sala de aula. A maioria (92,2%) relata nunca ter participado de nenhum treinamento em ERRD, e 71,6% apontam que as escolas onde atua não desenvolvem programas de ERRD voltados a mudanças climáticas. Quanto à frequência das atividades sobre redução de riscos associados às mudanças climáticas, 72% não trabalha com essa temática em sala de aula. Isso não implica insensibilidade ao tema, uma vez que 97,1% acreditam que a ERRD em mudanças climáticas é importante para promover a resiliência das comunidades.
3 CONCLUSÃO
A pesquisa revelou poucas atividades de EA para riscos em mudanças climáticas sendo conduzidas por docentes nas comunidades escolares. Os professores participantes deste estudo acreditam que a EA voltada à redução de riscos e desastres climáticos é uma ferramenta fundamental para a preservação do meio ambiente, redução e preparação a desastres e como formador de uma mentalidade social responsável. Este estudo indica que a escola pode iniciar o processo de disseminação da EA para redução de riscos e desastres climáticos. Para futuras pesquisas, recomenda-se estudos abrangentes envolvendo diversos atores da sociedade para identificar a aplicabilidade de programas de ERRD climática. Com o aumento esperado de desastres no Brasil e a população vivendo em áreas de risco, avanços nos campos de estudo em EA são essenciais para fortalecer a cultura de prevenção de desastres climáticos e segurança no país.
REFERÊNCIAS
ALVALÁ, R.; BARBIERI, A. Desastres Naturais. In: NOBRE, C.; MARENGO, J. Mudanças Climáticas em Rede: um olhar interdisciplinar. Contribuições do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas. Bauru: Canal6 Editora, 2017.
DA SILVA ROSA, et al. Environmental Education as a Strategy for Reduction of Socio-Environmental Risks. Revista Ambiente e Sociedade, 18 (3): 211-230. 2015.
DEFESA CIVIL RS. Balanço das enchentes no RS - Defesa Civil do Rio Grande do Sul. 2024. Disponível em: Defesa Civil atualiza balanço das enchentes no RS – 20/8 - Defesa Civil do Rio Grande do Sul Acesso em:20 ago. 2024.
IBGE. População em áreas de risco no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; São José dos Campos: CEMADEN, 2018.
KATES, R. W., et al. Transformational adaptation when incremental adaptations to climate change are insufficient. Proceedings of the National Academy of Sciences, 2012.
LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e gestão participativa na explicitação e resolução de conflitos. Gestão em Ação, Salvador, v.7, n.1, p.37-50, 2004.
MARCHEZINI, V. et al. Educação para Redução de Riscos e Desastres: Experiências Formais e Não Formais no Estado do Rio de Janeiro. Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ. 2019.
UNISDR. Global Assessment Report on Disaster Reports on Disaster Risk Reduction (GAR), Risk Reduction Making Development Sustainable: the future of disaster risk management. Geneva: UNISDR, 2015.
UNISDR. Terminología sobre reducción del riesgo de desastres. Genebra: UNISDR, 2009.