Resumo

Título do Artigo

Inovação no Antropoceno: Por uma Possibilidade de Futuro
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Tema

Inovação para a Sustentabilidade

Autores

Nome
1 - Glessia Silva
Universidade Federal de Sergipe - Programa de Pós-Graduação em Administração Responsável pela submissão
2 - Éder Danilo Bezerra
Universidade Federal de Alagoas - Unidade Educacional Penedo

Reumo

1 Introdução O último século tem sido marcado por forte influência do ser humano no Planeta Terra (Crutzen, 2016). Essa influência levou a uma nova época geológica denominada Antropoceno, onde pela primeira vez o ser humano foi capaz de alterar os limites planetários que asseguram a vida na Terra (Rockström et al., 2009). Esse cenário, portanto, traz a emergência de ampliar nossa visão para uma transformação que sustente um sistema de negócios que funcione para todos ao mesmo tempo em que mitigue impactos ecológicos e sociais negativos (Wright et al., 2018). Dada essas considerações, o ensaio tem como objetivo discutir o papel da inovação no Antropoceno como um caminho possível. 2 Fundamentação e Discussão 2.1 Entre destruir e consertar A inovação é tradicionalmente apontada como a solução natural para todos os problemas (Archibugi, 2017), mas também tem sido acusada de criar condições para uma crise global sem precedentes (Lundvall, 2017). Isso se deve ao seu uso dicotômico, que parece destruir o que não precisa ser necessariamente destruído e consertar o que não precisa ser necessariamente consertado (Silva & Di Serio, 2022). O ser humano se mostra, dessa maneira, como uma grande força de destruição, com uma promessa de renovação e percepção científica ao passo que coordenada uma nova ciência em meio às ruínas (Haraway et al., 2016). Isso leva à reflexão sobre o conceito de inovação, colocado por Schumpeter (2017) como algo novo ou melhorado e que traga resultado. Porém, o que determina a necessidade de algo novo ou melhor? O que pode ser enquadrado como problema? Para quem a inovação é benéfica? A inovação no Antropoceno envolve pensar iniciativas para o que seria o bom Antropoceno e o papel da inovação, até então omisso (Bennett et al., 2016); um entendimento mais profundo da relação humano-natureza nos estudos de inovação (Olsson et al., 2017); e um resgate das técnicas tradicionais e de sua história (Gasparin et al., 2020). 2.2 Caminhos possíveis Os desafios globais inerentes ao Antropoceno necessitam de uma governança do sistema terrestre, que se apresenta como uma ideia potencialmente arrogante e utópica, mas que pode servir para orientar imaginários de futuros possíveis (Wright et al., 2018). Entre as novas formas de organizar o mundo antropocênico, há a narrativa econômica, com a noção de capitalismo do desastre (Wissman-Weber & Levy, 2018); a narrativa tecnológica, com preceitos de um novo ambientalismo e ecopragmatismo, considerados por vezes como “venenos” para a cura (Lederer & Kreuter, 2018); a narrativa da resistência, que trata da mobilização climática e justiça social (Kalonaityte, 2018); a narrativa social, com a emergência por novas práticas de produção alimentar regenerativa, economias comunitárias alternativas, novas formas de comunhão e experimentos na organização da vida socioecológica ao longo de linhas mais regenerativas, equitativas e éticas (Beacham, 2018; Roux-Rosier et al., 2018); e a narrativa cultural, voltada à arte, estética, literatura, publicidade e cultura como formas mais amplas de ver, sentir, pensar e sonhar condições para intervenções materiais e sensibilidades políticas do mundo (Kalonaityte, 2018). 3 Conclusão Este ensaio se propôs a discutir o papel da inovação no Antropoceno como um caminho possível. Uma possibilidade de futuro reside no resgate do papel social da ciência por meio da inovação, com uma visão mais integrada do homem como pertencente à natureza na condição de homo sapiens e consciência da oportunidade de enfrentar a crise planetária de forma mais coordenada, sofisticada e efetiva. Como contribuições, espera-se despertar o interesse por pesquisas que façam diferença no Antropoceno e apontar caminhos para um futuro possível. Referências Archibugi, D. (2017). Blade Runner economics: Will innovation lead the economic recovery? Research Policy, 46(3), 535-543. Beacham, J. (2018). Organising food differently: Towards a more-than-human ethics of care for the Anthropocene. Organization, 25(4), 533-549. Bennett, E. M., Solan, M., Biggs, R., McPhearson, T., Norström, A. V., Olsson, P., ... & Carpenter, S. R. (2016). Bright spots: seeds of a good Anthropocene. Frontiers in Ecology and the Environment, 14(8), 441-448. Crutzen, P. J. (2016). Geology of mankind. In Paul J. Crutzen: A Pioneer on Atmospheric Chemistry and Climate Change in the Anthropocene (pp. 211-215). Springer, Cham. Gasparin, M., Green, W., & Schinckus, C. (2020). Slow design?driven innovation: A response to our future in the Anthropocene epoch. Creativity and Innovation Management. Haraway, D., Ishikawa, N., Gilbert, S. F., Olwig, K., Tsing, A. L., & Bubandt, N. (2016). Anthropologists are talking: about the Anthropocene. Ethnos, 81(3), 535-564. Kalonaityte, V. (2018). When rivers go to court: The Anthropocene in organization studies through the lens of Jacques Rancière. Organization, 25(4), 517-532. Lederer, M., & Kreuter, J. (2018). Organising the unthinkable in times of crises: Will climate engineering become the weapon of last resort in the Anthropocene? Organization, 25(4), 472-490. Lundvall, B. Å. (2017). Is there a technological fix for the current global stagnation? A response to Daniele Archibugi, Blade Runner economics: Will innovation lead the economic recovery? Research Policy, 46(3), 544-549. Olsson, P., Moore, M. L., Westley, F. R., & McCarthy, D. D. (2017). The concept of the Anthropocene as a game-changer: a new context for social innovation and transformations to sustainability. Ecology and Society, 22(2). Rockström, J., Steffen, W., Noone, K., Persson, Å., Chapin, F. S., Lambin, E. F., ... & Nykvist, B. (2009). A safe operating space for humanity. Nature, 461(7263), 472-475. Roux-Rosier, A., Azambuja, R., & Islam, G. (2018). Alternative visions: Permaculture as imaginaries of the Anthropocene. Organization, 25(4), 550-572. Schumpeter, J. A. (2017). Capitalismo, socialismo e democracia [recurso eletrônico]. Trad. Luiz Antônio Oliveira de Araújo. São Paulo: Editora Unesp Digital. Silva, G., & Di Serio, L. C. (2022). Inovação e desenvolvimento: entre saídas e escapes. Desenvolvimento em Questão, 20(58). Stengers, I. (2015). No tempo das catástrofes. São Paulo: Cosac Naify, 71. Wright, C., Nyberg, D., Rickards, L., & Freund, J. (2018). 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