Reumo
Introdução
A educação superior brasileira, conforme estabelecido pela Resolução nº 7/2018 do Conselho Nacional de Educação, busca integrar o ensino, a pesquisa e a extensão, promovendo uma relação transformadora entre a academia e a sociedade. No contexto dessa diretriz, o projeto ABC Direitos Humanos, uma parceria entre a Aktionskreis Pater Beda, a Rede Solivida e a Cáritas Diocesana de Floriano, cofinanciado pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico Alemão (BMZ), exemplifica o impacto positivo que essas iniciativas podem ter tanto na formação dos alunos quanto no desenvolvimento das comunidades.
Este trabalho explora a participação dos alunos do curso de licenciatura em Biologia do IFPI no projeto ABC Direitos Humanos, abordando a transformação de suas percepções e posturas a partir das atividades extensionistas. Além disso, discute a integração entre educação, sustentabilidade e segurança alimentar, destacando os benefícios para os alunos, as comunidades e o ciclo interconectado de produção e consumo.
Fundamentação e Discussão
Extensão Universitária e a Resolução nº 7/2018
A Resolução nº 7/2018 determina que pelo menos 10% da carga horária dos cursos de graduação seja dedicada à extensão universitária, com o objetivo de articular a academia e as demandas sociais. A extensão é um processo educativo e formativo que transforma a sala de aula em um espaço de conexão entre o conhecimento científico e as necessidades reais da sociedade. No caso do projeto ABC Direitos Humanos, essa integração se reflete nas atividades práticas que os alunos do IFPI desenvolvem em comunidades vulneráveis, promovendo segurança alimentar, sustentabilidade e inclusão social.
Impacto Prático: Agroecologia e Segurança Alimentar
Os alunos do curso de Biologia participam ativamente da implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), promovendo práticas agrícolas sustentáveis em áreas degradadas. Além disso, contribuem nas práticas cotidianas em hortas comunitárias vivenciando suas dores e alegrias, bem como fazem monitoramento do açude comunitário, garantindo assim a continuidade das práticas agroecológicas.
O impacto dessas ações é amplificado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que permite que os agricultores familiares beneficiados pelo projeto vendam seus produtos para o restaurante do IFPI, onde os próprios alunos consomem esses alimentos. Essa interconexão promove um ciclo produtivo sustentável e educacional, levando os alunos a compreenderem a amplitude de suas ações e o impacto delas no cotidiano da comunidade acadêmica.
Mudança de Percepção e Postura em Sala de Aula
Relatos de professores indicam que os alunos retornam à sala de aula com uma nova postura. As atividades práticas desenvolvidas no campo fazem com que os estudantes adquiram um senso de responsabilidade social ampliado, maior engajamento e uma percepção crítica sobre o papel da ciência na transformação social. Esse processo reforça a importância da extensão universitária como uma ferramenta formativa, que vai além do ensino teórico e promove um aprendizado contextualizado e aplicado.
Inclusão Social e Empoderamento Feminino
Um aspecto crucial do projeto é a participação das mulheres, que representam 87% do público beneficiado. O empoderamento feminino nas atividades das hortas comunitárias fortalece a liderança local e promove a inclusão social, tornando-se um fator central para o sucesso do projeto. As mulheres desempenham um papel fundamental na preservação ambiental e na segurança alimentar, criando uma rede de apoio que beneficia toda a comunidade.
Ampliando o Ciclo de Transformação
O projeto ABC Direitos Humanos, ao integrar novos alunos ao longo de suas fases, continua expandindo suas atividades. O ciclo de produção agrícola, sustentabilidade e consumo é apenas um exemplo do impacto mais amplo que as atividades de extensão podem ter. Ao transformar as percepções dos alunos e ao promover uma mudança de postura em sala de aula, o projeto evidencia a importância da extensão na formação cidadã e na criação de soluções inovadoras para os desafios socioambientais.
Conclusão
O projeto ABC Direitos Humanos se consolida como uma experiência transformadora tanto para os alunos quanto para as comunidades atendidas. Por meio das atividades de extensão, os estudantes vivenciam a prática agroecológica e compreendem o impacto direto de suas ações no ciclo de produção e consumo. A interconexão entre as atividades extensionistas e os desafios enfrentados pelas comunidades promove uma mudança significativa nas percepções e posturas dos alunos, conforme relatado pelos professores.
Além disso, o projeto contribui para o fortalecimento da economia solidária e para o empoderamento feminino, ampliando as oportunidades de desenvolvimento local sustentável. A continuidade das ações e a integração de novas turmas garantem o impacto duradouro tanto para a formação acadêmica quanto para a transformação das realidades comunitárias.
A extensão universitária, nesse contexto, reafirma seu papel essencial na formação de cidadãos críticos e comprometidos com as causas sociais e ambientais, demonstrando que o ensino pode e deve estar conectado às necessidades da sociedade. O projeto ABC Direitos Humanos serve como um exemplo claro de como essa integração pode transformar realidades e formar indivíduos mais conscientes e engajados.
Referências
BRASIL. Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regulamenta o Art. 207 da Constituição Federal, que integra o ensino, pesquisa e extensão. Diário Oficial da União, Brasília, 19 dez. 2018.
CÁRITAS DIOCESANA DE FLORIANO. Apresentação Cáritas Diocesana 2024. Relatório Interno. Floriano, 2024.
REDE SOLIVIDA. Avaliação Rede Solivida - Relatório Final. Projeto ABC Direitos Humanos: Segurança Alimentar e Participação Política para uma Sociedade Forte no Brasil. Recife/São Paulo, 2024.