Reumo
1 INTRODUÇÃO - A pauta sustentável vem ganhando espaço no meio corporativo à medida que o
desempenho corporativo não financeiro, que incorpora, dentre outras questões, as iniciativas
ambientais, sociais e econômicas, tem conquistado a atenção no mercado internacional, o que
se evidencia pelo fato de que os investidores passaram a conceber que a lucratividade, de forma
isolada, não é uma métrica suficiente para indicar crescimento e geração de valor a longo prazo
(Sra; Booth; Cox, 2022; Loh; Thomas; Wang, 2017). Em razão da expansão da pauta, a
sustentabilidade corporativa evoluiu de uma espécie de inclusão inicial de fins meramente
filantrópicos para uma estratégia corporativa de criação de valor de mercado, inclusive em
economias emergentes (Lopez; Bejarano, 2022; Trujillo; Perez; Rojas, 2023).
Nesse contexto, as empresas, especialmente nos últimos anos, têm se mostrado mais
comprometidas em se declararem cada vez mais alinhadas aos pilares da sustentabilidade e
divulgarem, por meios diversos, a ascensão do desempenho sustentável. Havendo certo
destaque para os índices de sustentabilidade como meio de disclosure dos desempenhos
ambiental, social e econômico, com atuação ativa dos mercados de capitais na promoção da
pauta sustentável, por meio da emissão de comunicações formais e, até mesmo, da exigência
de iniciativas sustentáveis (Blandon; Bosch; Ravenda, 2024; Jimenéz, 2020; Yilmaz; Aksoy;
Tatoglu, 2020).
Diante do exposto, o presente estudo possui como objetivo analisar o comportamento
longitudinal do valor de mercado de índices de sustentabilidade da Bolsa de Valores Brasileira.
Os índices objeto de análise são Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), o Índice de
Carbono Eficiente (ICO2), o Índice Great Place do Work (IGPTW) e o Índice de Diversidade
(IDIVERSA).
O estudo apresenta contribuições distintas para diversos grupos de stakeholders. No
campo acadêmico, destaca-se a proposta inédita na literatura existente, de analisar o
comportamento longitudinal do valor de mercado dos quatro principais índices de
sustentabilidade da Bolsa de Valores Brasileira, o que pode vir a contribuir com o estado da arte
de pesquisas voltadas para a sustentabilidade corporativa, indicadores e índices de
sustentabilidade e o mercado acionário como um todo, com ênfase para a bolsa brasileira e para
as economias em desenvolvimento.
No eixo empresarial, a presente pesquisa tem capacidade de contribuir para a
evidenciação da relevância e influência das dimensões da pauta sustentável no valor de
mercado, bem como da indicação de pontos sensíveis nesta relação ao longo do período em
análise, que será distinto entre os índices, em razão da disposição de dados e data de constituição
destes. Para os investidores, a pesquisa possui potencial de auxiliar na tomada de decisão de
investimentos, considerando as carteiras de empresas componentes dos índices e os padrões de
valorização de mercado alinhados ao comprometimento com a sustentabilidade.
Ainda no campo das contribuições, o alinhamento dos índices com distintos pilares da
sustentabilidade e pautas específicas da temática revela a possibilidade de analisar a valorização
de mercado por pilar sustentável, podendo indicar padrões de comportamento distintos em cada
eixo da sustentabilidade. Uma vez que, por exemplo, enquanto o ISE apresenta alinhamento
com os pilares tradicionais da sustentabilidade, ambiental, social e econômico, agregando,
ainda, o desempenho inovador e as práticas de governança corporativa; o IGPTW e IDIVERSA
são índices de maior alinhamento com o pilar social, abordando questões como qualidade do
trabalho e diversidade nas organizações, respectivamente; e o ICO2 é voltado para o pilar
ambiental, com ênfase para a pauta climática.
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS - O presente estudo, quanto aos objetivos, pode ser classificado como descritivo (Gil,
2014), vez que possui a finalidade basilar de descrever o comportamento das variáveis em
análise que, neste caso, correspondem ao valor de mercado mensal de quatro índices de
sustentabilidade da Bolsa de Valores Brasileira. Os índices selecionados foram o ISE, ICO2,
IGPTW e IDIVERSA. O valor de mercado representa a variável dependente (VD) do estudo,
enquanto o período em anos representa a variável independente (VI) do estudo.
O estudo adotou uma abordagem quantitativa para análise dos dados. A técnica
estatística utilizada foi a Anova de Medidas Repetidas (ANOVA-MR), adequada para estudos
longitudinais e comumente aplicada em pesquisas da área financeira, a técnica foi aplicada
individualmente para cada um dos índices. Para tratamento e análise dos dados foi utilizado o
software de uso livre R (Schmuller, 2019).
RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES - Os resultados evidenciaram a existência de diferenças estatisticamente significativas de
valor de mercado para os quatro índices ao longo dos períodos avaliados. Apesar disso, ao
considerar os anos iniciais e finais de análise de cada índice, é possível inferir que somente o
ISE (p < 0.01, d de Cohen = -13.100) e ICO2 (p < 0.01, d de Cohen = -6.750) apresentaram
aumento de desempenho significativo e de grande tamanho de efeito no valor de mercado ao
longo do período em análise, havendo destaque superior para o ISE ao considerar a magnitude
do efeito entre as diferenças.
Enquanto isso, o mesmo não foi constatado para o IGPTW e IDIVERSA, índices mais
recentes e com alinhamento ao pilar social da sustentabilidade, havendo, portanto, a
confirmação parcial da H1, mediante a constatação de que o valor de mercado do ISE e ICO2
apresentaram aumento de desempenho significativo ao longo do período em análise, enquanto
os demais índices não.
A comparação entre os achados pode indicar algumas questões importantes.
Inicialmente, é vital considerar que os índices mais antigos de sustentabilidade da B3 eram
voltados para os pilares da sustentabilidade de forma integral, caso do ISE, ou estritamente para
o pilar ambiental, caso do ICO2. O surgimento de índices alinhados de forma específica ao pilar
social da sustentabilidade, tratando de pautas como a qualidade no trabalho e a diversidade nas
organizações, IGPTW e IDIVERSA, respectivamente, é um fato recente.
Desta forma, o caráter recente desses índices pode justificar a menor variação e evolução
do valor de mercado ao longo do tempo, ao passo em que também sugere que a atenção mais
focada na pauta social, no contexto dos índices de sustentabilidade da Bolsa de Valores
Brasileira, é mais recente que o observado para o pilar ambiental do eixo sustentável.