Reumo
Introdução
A preocupação com o controle de qualidade e a adoção de boas práticas Ambientais Sociais e de Governança por empresas de dimensões heterogêneas cresce constantemente no mundo todo (Garcia, Silva, Orsato, 2017). A atenção crescente com a satisfação dos clientes, redução de custos internos, aumento da produtividade, melhoria da imagem da empresa e dos processos ao longo de todo o sistema de produção passou a ser vital para o acesso a novos mercados. Visto que na agricultura o empresário geralmente não influencia os preços dos insumos e dos produtos, a realidade é semelhante (Panferova, 2020).
Problema de pesquisa e objetivo
Em razão da dimensão significativa da cafeicultura em relação à agricultura brasileira, este estudo analisa a contribuição da adoção de práticas Ambientais, Sociais e de Governança nas empresas rurais cafeeiras, visando identificar possíveis ações corretivas que incrementem a sustentabilidade e competitividade do segmento como um todo.
Fundamentação teórica
A administração nas áreas rurais é relevante para a competitividade e a sustentabilidade das cadeias agrícolas, sobretudo no Brasil, onde o agronegócio desempenha um papel econômico significativo. Este estudo analisa a contribuição da adoção de práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ESG, em inglês) sobretudo com base nas diretrizes da agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (United Nations, 2016).
Metodologia
O Método utilizado para analisar a contribuição da adoção de práticas Ambientais, Sociais e de Governança (ESG, em inglês) nas empresas cafeeiras foi o Método de Identificação do Grau de Gestão para Café - MIGG-Café (FALEIROS et al., 2020; BLISKA, 2018) , que identifica o nível de gestão de uma empresa e pode contribuir para a tomada de decisões de forma organizada e para a obtenção de produtos de melhor qualidade, visando atender às preocupações atuais dos consumidores, como o aumento da produção sustentável.
O MIGG é aplicado por meio de questionário impresso ou eletrônicos, que engloba oito processos gerenciais – critérios de gestão, que avaliam 64 indicadores. Cada um dos critérios proporciona à avaliação do respondente uma soma que varia de zero a 1000 pontos. Essa pontuação classifica o grau de gestão em níveis de um a nove, sendo um o mais baixo e nove o mais elevado.
Nesse estudo são avaliados seis indicadores de gestão do MIGG-Café que compõem o critério Sociedade, que examina como a organização contribui para o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma sustentável. Também é avaliado o indicador que examina as regulamentações ambientais, do critério Resultados.
O planejamento amostral baseou-se no número de propriedades cafeeiras no Brasil e seus estados (IBGE, 2006). Posto que a cafeicultura é cultura perene e espera-se idade mínima de 30 anos dos talhões economicamente produtivos, as informações são pertinentes. O estudo é exploratório, a amostragem intencional e o levantamento não-probabilístico por conveniência, pois foram entrevistados apenas cafeicultores que aceitaram participar do estudo. Assumiu-se a estratégia de amostragem estratificada pela distribuição de cafeicultores em mesorregiões. O valor estimado da amostra foi dividido proporcionalmente entre as mesorregiões geográficas, de acordo com sua representatividade em relação ao total de propriedades cafeeiras do Brasil.
Foram avaliadas 1182 nas diferentes regiões produtoras brasileiras. A amostragem por mesorregião superou aos valores mínimos calculados.
Análise dos resultados
Observaram-se que o menor percentual de adoção dos indicadores associados às práticas ESG nas empresas cafeeiras brasileiras está associado à adoção de mecanismos para assegurar a ética nos relacionamentos com colaboradores, clientes, fornecedores e a sociedade.
Quanto aos percentuais de adoção dos indicadores associados aos ESGs em relação aos níveis de gestão identificados na cafeicultura (níveis 1 a 9), as práticas de ESG apresentam resultado mais homogêneos quanto maior é o Grau de gestão (Nível 9) atingido pelos cafeicultores.
Os percentuais de adoção dos indicadores de ESG nas empresas cafeeiras brasileiras, por tamanho da propriedade, indicaram os maiores percentuais de adoção dos indicadores nas grandes propriedades, e nos minifúndios os menores níveis de adoção.
Conclusão
A questão da ética na atividade cafeeira apresenta resultados extremamente baixos em todos os Graus de gestão, bem como em todas as categorias de imóveis rurais: minifúndio, pequena, média e grande propriedade. Portanto, observa-se um quadro preocupante quanto a esse aspecto da governança, que permeia todas as relações da atividade econômica. O aprofundamento de estudos neste quesito é necessário para melhor entendimento do porquê desses baixos valores.
Embora nas grandes propriedades sejam observados os maiores percentuais de adoção dos indicadores associados às práticas de ambientais, sociais e de governança, bem como nas pequenas e médias aqueles percentuais também alcancem valores significativos, ainda há espaço para melhoria contínua em todas as categorias de tamanho.
A baixa participação das empresas em cooperativas, associações, sindicatos e outras instituições coletivas, pode indicar desconhecimento dos empresários ruais quanto aos serviços por elas disponibilizados. Assim, é importante um maior empenho das daquelas instituições em investigar os motivos pelos quais as empresas não utilizam regularmente seus serviços.
Referências Bibliográficas
BLISKA, A. A. Indicadores de gestão dos arranjos produtivos cafeeiros no Brasil: uma análise de correspondência múltipla. 2018. 115 p. Dissertação, Campinas: UNICAMP, 2018.
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de café – v.11, n.3, 2024. Brasília: CONAB, 2024.
FALEIROS, G. D. et al. A importância da gestão na competitividade dos cafezais da Alta Mogiana paulista. Científica, Dracena, SP, v. 48, n. 1, p. 1–16, 2020. Disponível em: http://cientifica.org.br/index.php/ cientifica/article/view/1293. acesso em: 17 abr. 2023.
GARCIA, A. S.; SILVA, W. M.; Orsato, R.J. Sensitive industries produce better ESG performance: Evidence from emerging markets. J. Clean. Prod. 2017, 150, 135–147. Available online: https://pesquisa-eaesp.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/arquivos/1. _orsato_sensitive_i_-_1-s2.0-s0959652617304067-main.pdf (accessed on 9 February 2022). [CrossRef]
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PANFEROVA, L. The importance of internal control for agricultural organizations and ways to improve it. DAIC 2020. In E3S Web of Conferences; EDP Sciences: Ulis, France, 2020; Volume 222, p. 06025. [CrossRef]
United Nations. Sustainable Development Goals. 2016. Available online: https://www.un.org/en/academic-impact/page/ sustainable-development-goals (accessed on 29 December 2021).