Reumo
Este estudo qualitativo aborda a problemática da sustentabilidade na produção de carne bovina no Brasil, um dos setores de maior relevância no agronegócio nacional. A pesquisa investiga as percepções de produtores rurais e especialistas sobre a emergência de proteínas alternativas. Este foco proporciona uma nova compreensão sobre como essas percepções podem influenciar a transição para métodos mais sustentáveis, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas e destacando o papel crítico que o Brasil desempenha como um dos principais exportadores de proteína animal no mercado global (MALAFAIA, BISCOLA, 2023; ONU, 2024; SIQUEIRA, 2024). Foram realizadas entrevistas em profundidade com stakeholders da cadeia bovina. A amostra foi selecionada por conveniência, utilizando o método da bola de neve, com os entrevistados sendo indicados por uma especialista na cadeia da carne com mais de 15 anos de atuação, e por oportunidade durante a Expointer 2023, a maior feira de agropecuária da América Latina. Foram realizadas oito entrevistas em profundidade, sendo cinco com produtores rurais de diferentes atuações profissionais e três com especialistas no setor - uma responsável técnica de um programa de certificação de carne bovina, um chef especializado em cortes bovinos e uma consultora de posicionamento para a cadeia da carne. Estas entrevistas foram realizadas de forma online pelo Microsoft Teams. Quanto às demais entrevistas, elas foram coletadas presencialmente na Expointer 2023, onde foram entrevistados quem estava disponível naquele momento. No total, as entrevistas duraram cerca de 20 minutos à 1 hora e todas gravadas com autorização prévia e posteriormente transcritas. A partir dos resultados, emergiram percepções variadas sobre o tema. Alguns veem as proteínas alternativas como um complemento de nicho de mercado, enquanto outros expressam preocupações sobre a potencial concorrência desses novos produtos. Há uma divisão entre os stakeholders em reconhecer as pressões para adotar práticas mais sustentáveis versus aqueles que percebem seus métodos tradicionais como independentes de influências externas. O primeiro grupo não percebe uma relação direta entre as pressões externas para tornar a cadeia bovina mais sustentável e suas práticas pecuárias cotidianas. Eles estão cientes da existência das discussões sobre sustentabilidade na cadeia bovina, entretanto não associam essas discussões às suas atividades diárias – relatam fazê-las de forma independente e não por necessidade de se adequar a padrões externos. De fato, eles reconhecem a importância do bem-estar animal na pecuária como um todo e afirmam adotar práticas que visam garantir o conforto e a saúde de seu rebanho. Já o segundo grupo percebe as pressões por sustentabilidade e observam suas reações de formas diversas: elas incluem a adoção de práticas de comprovação externa como rastreabilidade, sanidade, bem-estar animal e questões sociais. Esse segundo grupo reconhece a existência e o crescimento do mercado de proteínas alternativas, porém não acredita na substituição do consumo de carne bovina pela versão alternativa. Com base nas ações diante dessa pressão externa e nas afirmações dos entrevistados, é possível apresentar quais resultados estão tornando a cadeia bovina mais sustentável. Conforme as entrevistas, a melhora na qualidade da carne, o aumento na oferta de alimentos, a rastreabilidade na cadeia bovina, a maior conservação ambiental e questões ético-sociais são repercussões que vêm ocorrendo na cadeia bovina ao longo dos últimos anos. Este estudo contribui para o entendimento das dinâmicas do setor de produção bovina brasileiro, especialmente em relação à sustentabilidade e emergência de proteínas alternativas, enfatizando a interação complexa entre fatores econômicos, ambientais e sociais que influenciam os stakeholders ao longo da cadeia de suprimentos. Como limitação é possível citar a amostra não-probabilística e o pouco aprofundamento em questões sociodemográficas. Para novos estudos, é possível sugerir incluir as demais regiões do país para conhecer as percepções do restante do país, para contribuir com o crescimento sustentável do setor agrícola brasileiro.
REFERÊNCIAS
MALAFAIA, G. C.; BISCOLA, P. H. N. Anuário CiCarne da cadeia produtiva da carne bovina – 2023. Campo Grande, MS: Embrapa Gado de Corte, 2023. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1160117/1/Anuario-CiCarne-cadeia-produtiva-2023.pdf. Acesso em: 10 abr. 2024.
ONU. Organização das Nações Unidas. Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: . Acesso em: 11 de abril de 2024.
SIQUEIRA, Breno. Em 2023, abate de bovinos cresce e o de frangos e suínos atinge recordes. Agência IBGE Notícias, Rio de Janeiro, 14 mar. 2024. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/39453-em-2023-abate-de-bovinos-cresce-e-o-de-frangos-e-suinos-atingem-recordes. Acesso em: 10 abr. 2024.