Resumo

Durante o século XX, as áreas urbanas apresentaram um intenso processo de expansão que se deu de forma espontânea ou, em alguns casos, de forma planejada. Essa expansão desordenada, a partir da qual a cidade nunca “cresce para dentro”, chamada de espraiamento urbano, traz consequências nocivas e bastante abrangentes no âmbito do espaço urbano. Na contramão dessa tendência de crescimento estimulada através de ações de renovação urbana, propõe-se a compactação urbana, que pode ser alcançada através da reabilitação urbana de áreas ditas “degradadas”, como os centros urbanos.

O artigo busca analisar a viabilidade do processo de reabilitação dos centros urbanos das metrópoles, com ênfase na realidade da cidade de Fortaleza, apresentando resposta à questão: de que maneira é possível reabilitar o Centro de Fortaleza, a fim de mitigar problemas decorrentes do crescimento desordenado da metrópole? O objetivo deste artigo é analisar a situação atual de estagnação do bairro, frente ao contexto de crescimento desenfreado em que se encontra sua metrópole, identificar os conflitos decorrentes desse processo e os fatores-chaves presentes, capazes de permitir sua reabilitação.

O espraiamento urbano torna a estrutura urbana pouco sistêmica e setorizada. Essa problemática caracteriza-se como um desperdício inaceitável para as cidades, principalmente para aquelas que apresentam carência urbana. O processo de reabilitação surge para otimizar o uso da infraestrutura estabelecida, dinamizar o comércio com o qual se tem uma relação de origem e para promover a geração de empregos. Essas ações possibilitariam que parte dos espaços naturais e ecossistemas continuassem ativos, além de elevar a qualidade urbana e estimular meios de deslocamento mais benéficos e ecológicos.

Inicialmente foi feita uma revisão bibliográfica, com ênfase no entendimento da problemática em um contexto geral para, posteriormente, direcioná-la para a realidade do Centro da cidade de Fortaleza. Em seguida, foi realizado um diagnóstico do objeto de estudo: visitas de campo, registros fotográficos, documentos cartográficos e entrevistas com usuários. A partir disso, pode-se emparelhar a teoria ao diagnóstico realizado, possibilitando a definição de um prognóstico para a área. Este, por sua vez, permitiu a identificação de formas de intervenção relevantes para reabilitação do bairro.

O principal ponto identificado foi a grande quantidade de edificações vazias e subutilizadas com potencial de aproveitamento para o uso habitacional na região. Essas edificações poderiam sofrer intervenções objetivando a mitigação do déficit habitacional, a partir de ações de requalificação da área com a oferta de unidades habitacionais, que poderiam ser amparadas por equipamentos de usos diversos que suprissem as necessidades básicas diárias. A adoção de tipologias de uso misto, com comércio ou serviços no térreo e uso residencial nos pavimentos superiores, é recomendada.

A reabilitação do Centro de Fortaleza apresenta-se como uma ação extremamente válida, uma vez que foi averiguado o forte potencial desperdiçado do bairro. No entanto, para que o processo de sustentabilidade urbana seja possível na adequação das cidades em relação aos problemas contemporâneos, é imprescindível que os atores envolvidos participem de um processo contínuo e gradativo de mudanças, tanto culturais, sociais, físicas e econômicas, quanto de organização administrativa governamental, de segurança pública, de redistribuição de renda e de acesso à terra urbana. 

Boavida-Portugal, Luis. As condições de sustentabilidade da reabilitação urbana. GeoINova, n. 10, p. 175-190, 2004. Campreciós, Juan. A cidade em sua dinâmica em direção à sustentabilidade. In: Centro Iberoamericano de Desenvolvimento Estratégico Urbano - CIDEU. Sustentabilidade urbana: contribuição das cidades frente à mudança climática. Barcelona: AECID, 2008. D’ARC, Hélène Riviere; MEMOLI, Maurizio. Intervenções Urbanas na América Latina: viver no centro das cidades. São Paulo: Editora Senac, 2012. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Manual de Reabilitação de Áreas Centrais. 2 e.d. ed. Brasília, 2008.