Resumo

Com o agravamento de problemas ambientais e a busca dos stakeholders por empresas confiáveis, as empresas têm elaborado e divulgado relatórios de sustentabilidade (RS) seguindo modelos como o proposto pela Global Reporting Initiative (GRI). Este visa auxiliar as empresas a construírem RS mais transparentes e de qualidade para melhorar a prestação de contas. Porém, a literatura vem sinalizando que as empresas divulgam RS como forma de legitimação em vez de promover uma efetiva prestação de contas (MATA, FIALHO & EUGÉNIO, 2017), comprometendo a qualidade da divulgação (DEEGAN, 2017).

O setor de carne e derivados é um dos que possuem alto impacto ambiental por meio da emissão de gases poluentes, consumo de água e relação com desmatamento. Logo, este estudo objetiva analisar o grau de evidenciação efetiva (GEE) e o grau de aderência plena (GAPIE) dos indicadores ambientais propostos pela GRI, das empresas do setor de carne e derivados listadas na B3. A partir dos indicadores propostos por Dias, Siqueira e Rossi (2006) e Carvalho e Siqueira (2008), foram analisados os relatórios de sustentabilidade, referente ao ano de 2020 das empresas desse setor.

O RS é capaz de comunicar de forma integrada as dimensões econômica, ambiental e social, dando maior transparência e expandindo o diálogo das empresas com todos os stakeholders (ETHOS, 2007). Porém, a literatura tem observado que a qualidade desses relatórios é questionável (DEEGAN, 2017), pois eles são uma forma de gerenciar as expectativas dos stakeholders com o intuito de manter sua competitividade frente ao mercado (DAUB, 2007), bem como divulgar uma imagem mais favorável sobre si mesma do que realmente é em termos de desempenho subjacente (MICHELON & TROJANOWSKI, 2021).

A pesquisa documental, sob uma abordagem qualitativa, verificou-se o nível de divulgação e aderência com que as empresas do setor de carne e derivados estão divulgando sobre a Norma Específica da série 300 (tópicos ambientais) da GRI. Para realizar essa medição, usou-se os indicadores GAPIE e GEE propostos, respectivamente, por Dias, Siqueira e Rossi (2006) e Carvalho e Siqueira (2008).

O GAPIE e o GEE das empresas analisadas indicam baixa evidenciação dos indicadores ambientais GRI. Essas evidências corroboram que a qualidade dos RS é questionável (DEEGAN, 2017), levando a inferir que a publicação de tais relatórios representa uma maneira dessas empresas manterem sua legitimidade, gerenciando as percepções de seus principais stakeholders. Esses argumentos são condizentes ao ponderar que as atividades do setor de carne e derivados são consideradas potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais, conforme a classificação dada pela Lei no. 10.165/2000.

Conclui-se que apesar dos esforços de organizações normativas como a GRI em desenvolver diretrizes para facilitar a elaboração de RS, as empresas do setor de carne listadas na B3 ainda precisam evoluir para alcançarem um GEE e GAPIE satisfatório. Um caminho que poderia contribuir nesse avanço seria a implementação de legislação obrigatória para a divulgação de informações ambientais, como ocorre com o setor elétrico brasileiro, cujo volume de evidenciação ambiental é maior do que em outros setores econômicos (DI DOMENICO, TORMEM & MAZZIONI, 2017).

DEEGAN, C. Twenty five years of social and environmental accounting research within Critical Perspectives of Accounting: Hits, misses and ways forward. Critical Perspectives on Accounting, v. 43, 2017. MATA, C.; FIALHO, A.; EUGÉNIO, T. Dez anos de investigação em contabilidade sobre relato ambiental. In: Atas do XVI Congresso Internacional de Contabilidade e Auditoria. 2017. DI DOMENICO, D.; TORMEM, L.; MAZZIONI, S. Nível de disclosure nos relatórios de sustentabilidade em conformidade com o Global Reporting Initiative (GRI). Revista Catarinense da Ciência Contábil, v. 16, n. 49, 2017.