Resumo

O cicloturismo está em expansão no Brasil e no mundo. A viagem de bicicleta, com seu ritmo contemplativo, tem desafiado o modelo dominante de turismo rápido, ostensivo e predatório. Os efeitos negativos do turismo tradicional têm alavancado alternativas de turismo sustentável, como o cicloturismo, ofertadas por empreendedores com propostas inovadoras para o contexto brasileiro. Este artigo apresenta uma pesquisa qualitativa descritiva em forma de estudo de caso da Agência de Cicloturismo Caminhos do Sertão.

O Brasil, apesar do seu considerável potencial para o desenvolvimento do cicloturismo, ainda carece de estudos exploratórios e descritivos para maior compreensão do fenômeno no contexto brasileiro (Saldanha, 2017; Castro, 2018; Falbo, Edra & Teixeira, 2019). Portanto, esta pesquisa qualitativa em forma de estudo de caso teve como objetivo ampliar o conhecimento sobre cicloturismo, registrar um caso de sucesso de empresa pioneira no segmento de cicloturismo no Brasil, discutir as principais contribuições desta atividade para o território e destacar os fatores chave de sucesso desta iniciativa.

Este trabalho apresenta as principais referências relacionadas aos conceitos de empreendedorismo sustentável (Farny & Binder, 2021), turismo sustentável (Bramwell & Lane, 2013), cicloturismo (Teixeixa & Edra, 2020) e slow tourism (Dickinson et al, 2011). Traz também várias referências que fundamentam o surgimento do cicloturismo como uma alternativa sustentável ao turismo tradicional e seu impacto negativo sobre o meio ambiente e a sociedade (Weston & Mota, 2012; Lamont, 2014; Reid, 2017; Kline, 2017; Gazzola, et al., 2018; Popan, 2020; Han, et al., 2020; Maggi et al., 2021).

Esta pesquisa qualitativa exploratória descritiva utilizou a metodologia do estudo de caso (Yin, 2018) tendo como unidade de análise a Agência de Cicloturismo Caminhos do Sertão. Os dados primários foram coletados de três formas e fontes distintas: entrevistas abertas (Veal, 2011), condução de um grupo focal (Barbour, 2009) e anotações de campo feitas pelo observador participante (Marujo, 2012). Foram aplicadas a análise de conteúdo (Bardin, 1977) para organizar e interpretar os dados e a técnica de triangulação (Denzin, 2012) para aumentar a confiabilidade dos resultados da pesquisa.

Como contribuição do cicloturismo para o território, destacam-se: a geração de receita para os pequenos negócios; promoção do território como destino de cicloturismo; atração de turistas com interesse nas iniciativas de preservação e educação ambiental e a promoção e valorização do patrimônio ambiental e cultural. A gestão da rede de stakeholders foi apontada como maior desafio e ao mesmo tempo o fator chave de sucesso. Outros fatores determinantes: conhecimento do capital territorial, perfil eco-entrepreneur e roteiros focados na interação com a natureza e com a comunidade local.

Os resultados empíricos confirmam os pressupostos de que o cicloturismo pode contribuir para a economia local explorando o capital territorial de forma sustentável. A criação de roteiros de cicloturismo também tem o poder de transformar um território comum em destino cicloturístico. Perfil eco-entrepreneur e governança da rede de stakeholders são fatores chaves de sucesso. A oferta de roteiros de cicloturismo tem o potencial de alavancar três movimentos relevantes para a sociedade: o uso da bicicleta, o melhor aproveitamento do capital territorial e o desenvolvimento do turismo sustentável.

O texto traz 45 referências, dentre elas: Dickinson, J. & Lumsdon, L. (2010). Slow travel and tourism. London: Earthscan. Han, H., Lho, L., Al-Ansi, A. & Yu, J. (2020). Cycling tourism: a perspective article, Tourism Review, 75(1), 162-164. Saldanha, L.; Souza, H.; DeCastro, J. & Balassiano, R. (2019). O cicloturista brasileiro 2018. Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes da ANPET. Balneário Camboriú. Teixeira, C. A. & Edra, F. P. M. (2020). Cicloturismo: Origem e conceito da palavra a partir de Koselleck. Turismo: Visão e Ação, V. 22, p. 318-333.