Reumo
A produção de shampoos envolve o uso de matérias-primas que podem afetar negativamente o meio ambiente, seja pela geração de resíduos tóxicos ou pelo descarte inadequado de embalagens plásticas. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi analisar criticamente as práticas de sustentabilidade de diferentes produtos, utilizando critérios previamente estabelecidos para avaliar ingredientes, embalagens e o impacto das operações no meio ambiente. A pesquisa foca em shampoos comercializados no Brasil, comparando grandes e pequenas marcas que se denominam sustentáveis. Essa pesquisa se propôs ainda uma comparação com shampoos convencionais, cujas marcas não têm um discurso ambiental em sua comunicação. Foi feita também uma análise quanto ao preço de comercialização, para averiguar se produtos com mais práticas sustentáveis são vendidos a preços mais elevados.
A temática da sustentabilidade na indústria de cosméticos vem mudando o mercado e as cadeias de produção, e práticas associadas a esse estilo de desenvolvimento passaram a ser preferidas por parte do consumidor final. No contexto do mercado de cosméticos, isso implica na adoção de práticas que minimizem impactos ambientais, sociais e econômicos. A indústria cosmética tem adotado diversas práticas sustentáveis, como o uso de ingredientes naturais, embalagens biodegradáveis e a implementação de programas de logística reversa. No entanto, o fenômeno do greenwashing, que consiste em exagerar ou distorcer as práticas ambientais, tem sido uma preocupação crescente. Muitas empresas buscam selos de certificação como "Cruelty-Free" e orgânico para atestar suas práticas, mas nem sempre essas certificações garantem uma sustentabilidade completa em todos os aspectos de produção.
A metodologia adotada no estudo foi a abordagem comparativa, na qual foram analisadas 15 marcas de shampoo comercializadas no Brasil, divididas em três grupos: (1) grandes marcas com discurso de sustentabilidade, (2) pequenas marcas com o mesmo discurso, e (3) marcas convencionais sem foco sustentável. A seleção das marcas foi realizada no ano de 2020, com base em uma pesquisa em mecanismos de busca utilizando a palavra-chave "shampoo sustentável.". Os critérios incluíram o estado físico do shampoo (líquido ou sólido); tipo de embalagem; existência de logística reversa ou refil; uso de ingredientes naturais; matérias-primas orgânicas; vegano; "Cruelty-Free"; ausência de substâncias tóxicas (baseado nas referências internacionais); derivados de petróleo; preço médio; responsabilidade social; responsabilidade ambiental; SGA/ISO; selo de certificações. Cada critério recebeu uma pontuação binária (0 ou 1), resultando em uma pontuação final que reflete o grau de sustentabilidade de cada marca.
Os dados foram analisados estatisticamente utilizando o software R Studio, versão 4.0.2, com o objetivo de correlacionar as pontuações dos critérios de sustentabilidade com o preço dos produtos, a fim de avaliar se o valor de venda dos shampoos influenciava na adoção de práticas sustentáveis.
Na análise dos resultados, as pequenas marcas que se declaram sustentáveis obtiveram um melhor desempenho com um total de 52 pontos, enquanto as grandes marcas sustentáveis, 48 pontos. Quanto ao grupo 3, de controle, somaram 16 pontos. Ainda que as menores marcas tenham obtido um melhor resultado, foi uma marca do grupo 2 que obteve maior pontuação, atendendo a 13 dos 15 critérios.
As pequenas marcas, tiveram um desempenho superior nos critérios estado físico, embalagem, logística reversa ou refil, vegano, substâncias tóxicas e substâncias derivadas de petróleo. Apesar de limitadas em termos de infraestrutura, essas marcas demonstraram compromisso com práticas sustentáveis, com destaque para o uso de shampoos em estado sólido, o que reduz a necessidade de embalagens plásticas e conserva água durante a produção. Contudo, essas marcas ainda enfrentam desafios em relação à implementação de certificações e programas de responsabilidade socioambiental.
As marcas grandes e que se declaram sustentáveis, tiveram uma maior pontuação em critérios que remetem a uma maior estrutura organizacional e investimento, como responsabilidade social, responsabilidade ambiental, SGA/ISSO e selo de certificação.
O critério menos atendido foi o SGA/ISO, onde cerca de 73% das marcas não comunicaram se possuem SGA e certificação. O segundo tópico com a menor pontuação, foi o estado físico, de modo que a maioria dos shampoos (66%) é comercializada na forma líquida.
Todas as marcas sustentáveis apresentaram ingredientes naturais, enquanto que no grupo controle (3), apenas uma marca mostrou utilizar ingredientes naturais em sua fórmula.
Marcas do grupo de controle cumpriram alguns critérios como selos, SGA/ISO, cruelty-free, vegano, sem substâncias tóxicas, ingredientes naturais, responsabilidade ambiental, responsabilidade social e incentivo de reciclagem da embalagem. Outro fator de destaque nesse grupo foi que, 80% dos shampoos são cruelty-free. Apesar das marcas deste grupo não demonstrarem discursos ambientais, elas possuem algumas práticas voltadas para a sustentabilidade, e que não são utilizadas como estratégia de marketing
Uma análise adicional indicou que o preço dos shampoos não tem uma correlação direta com o nível de sustentabilidade. A marca com maior pontuação em termos de sustentabilidade estava no grupo dos shampoos de menor preço. Isso sugere que a adoção de práticas sustentáveis está mais relacionada ao posicionamento das empresas em termos de responsabilidade ambiental do que ao preço do produto final.
A pesquisa indica que os shampoos sólidos se destacam como uma alternativa mais sustentável, por dispensarem embalagens plásticas e demandarem menos água no processo produtivo. No entanto, essa alternativa foi adotada predominantemente por pequenas marcas, enquanto as grandes ainda priorizam produtos líquidos. Isso reflete o desafio da transição para práticas mais inovadoras em empresas de maior porte, apesar do discurso favorável à sustentabilidade.
Em conclusão, o estudo destaca as diferenças entre grandes e pequenas marcas de cosméticos quanto à capacidade de gerar impactos ambientais positivos e minimizar os negativos. As pequenas marcas se destacaram por atender a mais critérios de sustentabilidade, especialmente pelo uso de ingredientes veganos, naturais e pela oferta de produtos em formato sólido. As grandes marcas, por outro lado, exibem mais iniciativas de responsabilidade social e ambiental, como certificações ambientais.